Hoje em dia, cada um chama de “responsabilidade social” aquilo que mais lhe apetece. É por isso que uma norma de articulação que relacione todos os segmentos e setores envolvidos pode ser uma ferramenta poderosa. Essa é a premissa do ISO 26000, um guia de diretrizes de uso voluntário para empresas, entidades e órgãos interessados em implementar medidas socialmente responsáveis.
A norma vem justamente para estabelecer um padrão, conseguido depois de cinco anos de discussões que contaram com a participação ativa de representantes de mais de 90 países. O documento agrega todos os aspectos ligados a responsabilidade social de forma articulada, e foi concebida com o respaldo da International Organization for Standardization (ISO). Leia a última versão do ISO em português.
A intenção não é substituir todas as regulamentações que já existem no mundo sobre o assunto. Quando a 26000 remete a questões ambientais, por exemplo, o documento reforça pontos já levantados pelo ISO 14000 — conjunto de normas voltadas para a qualidade ambiental das empresas — e induz o seu uso.
A elaboração da norma contou com a participação ativa de membros do setor empresarial,da indústria, de organizações não-governamentais, centrais sindicais e órgãos públicos. Após ajustes finais em maio de 2010, a sua publicação deve acontecer em setembro.
Não é uma certificação
Aron Belinky, secretário-executivo do Grupo de Articulação das ONGs brasileiras na ISO 26000, explica que essa não é uma norma formatada para ser de certificação, porque não estabelece requisitos para a emissão de um selo. A base oferecida por ela pode servir, posteriormente, de inspiração e orientação para a criação de outras normas mais específicas.
“Enventualmente pode-se ter uma norma ligada à responsabilidade social feita por entidades do setor econômico ‘x’ que pegarão as orientações da 26000 e a partir disso criar os seus requisitos específicos”, afirmou. “Ela tem um propósito de motivar e articular as ações de todo mundo no rumo da responsabilidade social. Ao fazer isso, certamente vai criar demanda por todas as ferramentas acessíveis e necessárias em situações diferentes”.
Participação das partes
Como a responsabilidade social poderia ser incorporada pelos órgãos públicos? “Na maioria das vezes, ela fica restrita à imposição legal. Por exemplo: a coleta seletiva de lixo só passou a ser feita após a imposição de um decreto”, explica Andréa Santini, pesquisadora tecnologista do Inmetro e coordenadora do grupo de discussões do setor governamental durante o Seminário ISO 26000, que aconteceu nos dias 11 e 12 de novembro em São Paulo.
Santini sugere que a norma poderia ser usada, por exemplo, como uma diretriz para a inserção de critérios específicos ligados à sustentabilidade na legislação que regulamenta as compras feitas por licitações públicas.
Para a indústria, o estabelecimento dessa plataforma comum será bem-vinda por segmentos que já adotam critérios de sustentabilidade, mas que sentem falta de uma diretriz única. “Será um mecanismo importante para guiar empresas de grande porte que já seguem nessa linha”, afirmou Ana Paula Grether, coordenadora de balanço social da Petrobras.
Ela coordenou o grupo de estudos do segmento industrial durante o mesmo seminário, e ressaltou que talvez surjam dificuldades por parte de empresas de médio e pequeno porte na hora de seguir as premissas do ISO, devido principalmente ao seu texto denso e complexo. A simplificação do texto final é uma das sugestões do grupo para ser considerada antes da finalização da norma.
No primeiro dia do seminário que aconteceu em São Paulo foi montado uma espécie de “carrossel explicativo”, composto por cinco salas diferentes onde aconteciam debates e palestras para explicar pontos da norma e conceitos de responsabilidade social.
Os participantes entravam em uma sala, conheciam mais sobre o tema e então partiam para a próxima. Os cinco temas eram os seguintes: direitos humanos e práticas do trabalho; envolvimento comunitário e desenvolvimento; princípios de responsabilidade social, governança organizacional operacional, práticas leais de operação e questões de consumidores; meio ambiente; engajamento com stakeholders e integração de responsabilidade social na organização.
Pra já!
Belinky considera que as empresas podem começar a utilizar o texto do ISO para estabelecer medidas de responsabilidade social desde já, porque as bases do texto já foram todas formuladas. “Se você se interessa pelo assunto, o que você precisa saber já está escrito”.
(Blog da Página 22, 13/11/2009)