Representantes de 60 países buscam traçar estratégias para reduzir pela metade o número famintos no mundo até 2015. Na cúpula, implantação de uma agricultura sustentável aparece como uma das principais metas.
Sem a presença de chefes de Estado e de governo das maiores nações industrializadas, começou nesta segunda-feira (16/11) em Roma a Cúpula Mundial da Alimentação. Já no primeiro dia, representantes de 60 países aprovaram com aplausos a declaração final que pretende aumentar os investimentos no desenvolvimento agrário de países pobres.
Em 2009, o número de pessoas famintas chegou a 1 bilhão. O secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon, afirmou que o fornecimento de alimentos é condição básica para uma vida digna. Ele ainda advertiu que a comunidade internacional deve aumentar sua produção de alimentos em 70% até 2020 para suprir as necessidades da população em crescimento.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), Jacques Diouf, havia apelado aos participantes da cúpula para que levassem "propostas concretas" a Roma. Segundo ele, seriam necessários 44 bilhões de dólares ao ano em investimentos em agricultura em vez dos atuais 8 bilhões de dólares.
No entanto, o documento final do primeiro dia da cúpula não diz nada sobre os 44 bilhões de dólares sugeridos pela FAO. Em vez disso, determina políticas e estratégias para desenvolver o funcionamento dos mercados domésticos, regionais e internacionais e garante principalmente que os pequenos produtores tenham acesso justo ao mercado.
"Temos que ajudar as pessoas para que elas consigam produzir seus próprios alimentos", afirmou o vice-diretor-geral da FAO, Alexander Müller, em entrevista à imprensa alemã.
Segundo ele, a comunidade internacional está muito longe da meta de reduzir a fome pela metade até 2015. "Não estamos nem um pouco no caminho certo", constatou. O crescimento previsto até 2050, de mais 2,5 bilhões de habitantes, vai ser prejudicial, sobretudo, aos países em desenvolvimento, de acordo com Müller.
A Alemanha e o Brasil no combate à fome
A ministra da Agricultura da Alemanha, Ilse Aigner, considerou a cúpula "um grande sucesso", pois esta teria sido, em sua opinião, a primeira vez que todos os participantes confirmaram o direito à alimentação.
Já o ministro alemão de Cooperação Econômica, Dirk Niebel, criticou a cúpula por não apresentar medidas concretas quanto ao acesso à agricultura. "Eu gostaria que tivéssemos avançado mais na remoção de barreiras de acesso aos mercados dos países em desenvolvimento e no fim dos subsídios para exportação de produtos dos países industrializados", lamentou Niebel à agência de notícias EPD.
Em entrevista ao jornal Berliner Zeitung, a secretária adjunta do ministério de Cooperação Econômica, Gudrun Kopp, disse que a segurança alimentar e o fomento das áreas rurais têm "a mais alta prioridade" para o novo governo alemão.
Além disso, Kopp também garantiu que o país pretende continuar aumentando a ajuda à agricultura de países em desenvolvimento. Dos 20 bilhões de dólares prometidos em junho pelos países do G8, a Alemanha contribuirá com 3 bilhões de dólares nos próximos três anos.
Nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um prêmio da organização de ajuda humanitária ActionAid pelo combate à fome no Brasil. Segundo dados da ActionAid, o país reduziu em 73% a desnutrição infantil, enquanto a mortalidade infantil baixou 45% nos últimos sete anos.
África
Para o autor do livro The Problem with África – Why Foreign Aid Isn´t Working (O problema com a África – por que a ajuda internacional não está funcionando), Robert Calderisi, a agricultura é a chave para o desenvolvimento do continente, mas este ponto não é um foco. "A agricultura é uma riqueza na África, porém ela é abandonada ou explorada pelos governos e o incentivo não foi muito bom", explica Calderisi.
Também na Ásia, onde vários países apostaram no crescimento econômico através da indústria, a agricultura foi deixada de lado, o que levou à miséria especialmente no campo.
"Qual será o futuro da agricultura na África? Deve-se seguir o mesmo caminho dos Estados Unidos e da Europa? Ou deve-se promover um desenvolvimento sustentável na agricultura pulando uma geração?", questionou o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner.
Para ele, não importa ser um país industrializado ou em desenvolvimento, mas sim trabalhar a favor de uma agricultura sustentável, pois somente assim "será possível lutar contra a fome".
(Deutsche Welle / UOL, 16/11/2009)