"Estou triste e desiludido. Nem o estímulo do Nobel pela paz foi suficiente para colocar as exigências globais em primeiro plano: continuamos sendo prisioneiros dos vetos cruzados da política interna". Barry Commoner, o ecologista que há mais de 40 anos luta para dar espaço à energia solar, ficou chocado com a freada da Casa Branca com relação ao clima. Do seu escritório em Nova York, ele acompanha as notícias sobre a cúpula asiática e não esconde a preocupação.
Depois da eleição de Obama, ele havia falado de uma mudança de 180 graus, de uma era de decisões concretas e velozes com relação ao meio ambiente.
"Disso isso com relação à presidência Bush. E, desse ponto de vista, confirmo que a mudança foi clara e profunda. Mas não o suficiente. A pressão política para a reforma da saúde fez com que faltasse o estímulo necessário para se obter um resultado no jogo climático. Assim, Obama registrou uma pesada derrota: não conseguiu assumir a liderança da economia verde".
La Repubblica - A três semanas da conferência da ONU de Copenhague, os primeiros dois poluidores do mundo renunciaram a compromissos vinculantes sobre o corte das emissões. Como a cúpula irá acabar?
Barry Commoner - Fala-se de um acordo político como conclusão da conferência, e essa definição corre o risco de ser uma cobertura diplomática para a falência da cúpula. Porém, não é o único cenário possível. Depois da assinatura do protocolo de Kyoto, em 1997, havia sido criado um quadro internacional, segundo alguns, semelhante a esse. A chegada de Bush à Casa Branca havia levado a uma mudança de estratégia dos EUA e a uma ruptura dos acordos selados no Japão. Naquela ocasião, a Europa se encontrou substancialmente sozinha, porém ela não jogou a toalha: com paciência e tenacidade, teceu um sistema internacional de alianças e, no fim, obteve a ampla maioria necessária para a entrada em vigor do protocolo de Kyoto.
Essa performance diplomática poderia se repetir?
Commoner - Do ponto de vista político, a situação hoje é menos difícil. Os EUA não se opõem mais por princípio, mas por tática: precisam de um ano mais para fazer passar a lei federal que abre a porta aos acordos internacionais para a redução de gás carbônico. E a China está investindo grandes capitais na energia limpa: em pouco tempo, haverá interesse de apoiar a eficiência e as fontes renováveis.
Então, o senhor está otimista?
Commoner - Para os tempos das negociações internacionais, um ano não é muito. Mas, para o equilíbrio da atmosfera, é muito. Demais. Não temos mais tempo porque o último momento útil para evitar os danos eram ontem. Agora, o ritmo de crescimento da concentração de gás carbônico na atmosfera é insustentável. O objeto de disputa em Copenhague não é como evitar as mudanças climáticas, mas como contê-las dentro de limites não devastadores para os nossos equilíbrios sociais.
Qual é o limite que não deve ser superado?
Commoner - Os climatologistas indicaram como teto insuperável dois graus de aumento no arco do século em curso. Já é muito, se calcularmos que, no século XX, registrou-se um aumento de menos de um grau, e as consequências, do ponto de vista da fusão das geleiras, estão debaixo dos olhos de todos. Em todo caso, para não superar os dois graus, é preciso cortar imediatamente as emissões, porque a concentração de gás carbônico na atmosfera está muito próxima da linha que corresponde a esse aumento de temperatura.
O que acontecerá nos próximos meses?
Commoner - O mercado da economia de baixo impacto ambiental continuará se desenvolvendo, porque a opinião pública pede produtos mais limpos. Temos eletrodomésticos sempre mais eficientes, e está se aproximando o momento dos carros elétricos, que têm um senso ambiental se são recarregados com energia solar. Portanto, a direção de marcha não muda depois da cúpula na Ásia. Mas o atraso aumenta. E, para cada dia de atraso, aumenta o preço que teremos que pagar em termos de lutos e de perdas econômicas.
(Por Antonio Cianciullo, La Repubblica / IHUnisinos, com tradução de Moisés Sbardelotto, 17/11/2009)