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terras quilombolas aracruz/vcp/fibria direitos quilombolas
2009-11-16

Nesta segunda-feira (16/11), os quilombolas do norte do Estado vão se reunir com representantes da 6ª Câmara de Direitos Humanos de Brasília, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e Fundação Palmares para discutir os abusos da Polícia Militar na ação da última quarta-feira (11), que prendeu 28 quilombolas de forma arbitrária e truculenta. Segundo o  Ministério Público Federal (MPF/ES), as prisões são ilegais.

O MPF investiga o episódio e a reunião deverá servir de subsídio para a conclusão do inquérito. Os quilombolas afirmam estar sendo perseguidos por recolherem restos de eucalipto que não são utilizados pela ex-Aracruz Celulose. Eles utilizam os restos da madeira, que são abandonados pela empresa após o corte do eucalipto. para a produção de carvão. e essa atividade é a mais importante fonte de renda das famílias negras do norte do Estado.

Eles informam que, ilhados entre os eucaliptos, não lhes restaram meios de trabalho e que a acusação de roubo de eucalipto é apenas uma tentativa de impedir a luta dos negros para terem de voltas suas terras, ocupadas pela ex-Aracruz Celulose (atual Fibria). As prisões foram feitas pela Polícia Militar do Espírito Santo (PMES). Os detidos foram transportados em ônibus e camburões para a delegacia do município vizinho de São Mateus, a 40 km de distância de Conceição da Barra, onde moram.

Segundo as investigações, a PM chegou à comunidade de Córrego de São Domingos por volta das 9h do dia 11, com um efetivo de cerca de 100 homens, além de cavalos e cachorros, e com um mandado de busca e apreensão relativo a suspeitas de furto de madeira da Fibria (empresa resultante da união da Aracruz Celulose e da Votorantim Celulose e Papel).

O mandado, expedido pela Justiça estadual, teve como base uma representação do 3° Pelotão da 5ª Companhia Independente da PM, com sede em Conceição da Barra, e era direcionado a nove pessoas. O endereço para as buscas e apreensões, fornecido genericamente, foi o da comunidade de Córrego de São Domingos.

“Os quilombolas são vítimas. Eles lutam por direitos e estão ali fazendo apenas seu trabalho. A mobilização tão grande da polícia com pessoas pacíficas não se justifica, principalmente em um Estado com tanta violência. Esse povo luta por seus direitos, por seu espaço, que foi invadido por não quilombolas e que agora é obrigado a sofrer com a repressão”, ressaltou o subsecretário do Conselho Nacional de Direitos Humanos, Perly Cipriano.

A ação da PM nada mais é do que a continuidade de um processo de intimidação contra as comunidades quilombolas do norte do Estado. Prova disso são as três invasões da residência de Berto Florentino, uma das mais fortes lideranças quilombolas.

No norte, praticamente todos os negros quilombolas vivem da cata de resíduos de eucalipto, mas as ações da PM somente ocorrem na região de Berto, que se mantém firme na luta contra a usurpação das terras quilombolas pela ex-Aracruz Celulose. Na ação desta quarta-feira (11), até seu filho cego e sua neta, que questionou a ação da polícia, foram atingidos. “O filho cego de Berto foi levado algemado e a neta que questionou o uso de tanta violência para prender os quilombolas em um município com tantos crimes impunes foi agredida por uma policial”, contaram eles.

Os quilombolas afirmam que a impunidade da empresa e de quem trabalha em coluio com ela é que permite a violência contínua contra a comunidade. A expectativa é que desta vez isso não ocorra. Segundo eles, em maio deste ano os abusos contra os quilombolas foram denunciados à subsecretária de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), Fabiana Maioral , que prometeu investigar. Mas até agora nada fez. A reunião marcada para esta segunda (16) não teve local divulgado até o fechamento desta edição.

(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 14/11/2009)


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