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mercado de carbono crise econômica
2009-11-16

Relatório prevê que negócios com créditos não regulados pela ONU encolham de 62% a 76% neste ano

Mas projetos com base técnica e certificados por padrão internacional conseguem manter preços em relação ao ano passado.

Relatório da empresa de pesquisas New Energy Finance mostrou o mercado voluntário de créditos de carbono como uma das principais vítimas do agravamento da crise financeira no fim do ano passado.

Apenas neste semestre os negócios apresentaram algum sinal de recuperação, depois de a primeira metade do ano ter sido considerada "desastrosa". A New Energy Finance prevê que o ano termine com redução de 62% a 76% ante o movimento de 2008. Os negócios devem se restringir à faixa de US$ 171 milhões a US$ 261 milhões, pela comercialização de 69 milhões a 88 milhões de toneladas equivalentes de CO2.

O motivo: a redução das emissões globais de gás carbônico. A AIE (Agência Internacional de Energia) estima redução de 3% neste ano, reflexo da crise econômica. Com essa diminuição, empresas deixaram o mercado voluntário em segundo plano. Os negócios se concentraram nos países com metas obrigatórias, definidas pelo Protocolo de Kyoto -entre eles o da União Europeia.

Segundo o relatório da New Energy Finance, o preço da tonelada de CO2 chegou ao patamar médio de US$ 4 neste ano, praticamente a metade da cotação praticada em 2008. No fim do terceiro trimestre, em reação, chegava a US$ 5,80. O comércio de crédito de carbono é um sistema que funciona com a compra e a venda de unidades correspondentes à redução da emissão de gases causadores do efeito-estufa.

Pequenas se unem
Nesse cenário de retomada, a consultoria CantorCO2e acertou a venda, para o Banco Mundial, de 206.178 toneladas geradas no Brasil. Usando a Metodologia do Carbono Social, que trabalha com o conceito de associar outros benefícios à redução das emissões, os créditos tiveram preços entre US$ 7 e US$ 8 por tonelada.

"Projetos bons o mercado remunera", diz Stefano Merlin, presidente da Carbono Social Serviços Ambientais. Metodologias reconhecidas pelo cuidado técnico têm a perspectiva de serem aceitas em mercados regulados no futuro, afirma Divaldo Rezende, diretor-executivo da divisão brasileira da consultoria CantorCO2e.

As reduções de emissões foram geradas em projetos de biomassa renovável geridos pela Carbono Social em oito cerâmicas, localizadas em quatro Estados -São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. No lugar de lenha nativa, essas pequenas empresas usaram bagaço de cana, caroço de açaí, casca de arroz, poda de cajueiro, casca de coco, sementes de algaroba e serragem de madeira na geração de energia. O projeto do Carbono Social foi um dos sete escolhidos pelo Banco Mundial com o objetivo de neutralizar emissões.

Para Carlos Henrique Delpupo, diretor da KeyAssociados, o mercado voluntário tem lastro na demanda por produtos e serviços "ambientalmente corretos". Na preocupação das empresas com a própria reputação, aliar a imagem à redução de emissões se integra à estratégia de marketing e ajuda na fixação de marcas, diz.

Apesar de recuo, perspectivas são favoráveis
Apesar do recuo drástico que se prevê para este ano, as perspectivas para o mercado voluntário são favoráveis, num cenário de economia mundial em recuperação.

Segundo Stefano Merlin, presidente da Carbono Social Serviços Ambientais, uma das vantagens em relação aos negócios regulados é a maior velocidade de aprovação dos projetos. Embora sigam procedimentos semelhantes aos do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, sistematizado pelas Nações Unidas), os projetos voluntários levam metade do tempo -por volta de 10 a 12 meses- para emitirem créditos que possam ser negociados no mercado.

A diferença de tempo se explica pela tramitação na AND (Autoridade Nacional Designada; no Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia) e para registro no Comitê Executivo. Os projetos voluntários são certificados por empresas privadas.

Obstáculo
Espécie de raio-X para o autoconhecimento ambiental, o inventário das emissões dos gases-estufa costuma ser um obstáculo para as empresas elaborarem projetos na área ambiental. O primeiro, em especial, diz Marcelo Freire, consultor da KeyAssociados, por demandar uma série de dados que antes nunca foram calculados.

Adriana Mello, também consultora da Key, dá como exemplo de dificuldade saber a reposição do gás nos sistemas de ar-condicionado. O desânimo aumenta quando o inventário tem de ser renovado. Por isso a Key investiu em ferramenta que visa facilitar as atualizações.

Com o recurso, a consultoria faz a manutenção dos fatores de emissão e a metodologia do cálculo das emissões -"a partir da realidade brasileira", diz Mello. Os dados podem ser informados mesmo à distância. "O ideal é que essa "alimentação" ocorra ao menos trimestralmente", afirma Freire.

(Por Gitânio Fortes, Folha de S. Paulo, 14/11/2009)


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