Para o diretor técnico do Instituto de Eletrotécnica e Engenharia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer, afirmou que o blecaute na noite de terça-feira (10/11) pode ter sido causado por conta de uma crise de gestão entre os órgãos envolvidos. Segundo ele, o sistema elétrico brasileiro não está adequado para a organização desses órgãos, o que se refletiu na parte técnica do sistema.
“Há uma falta de coordenação sólida entre eles, de comando, controle, definição de responsabilidades claras e acompanhamento do dia a dia das coisas”, disse. Sauer se refere ao trabalho conjunto do Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
“Estamos diante de uma crise de gestão do sistema e talvez a organização não esteja adequada, porque foi criada a partir de 2003 e 2004 na reforma feita como resposta aos apagões e ao racionamento que aconteceram no período anterior”, disse Sauer, que foi diretor da área de gás natural da Petrobras no atual governo.
Para ele, surpreende o fato de ainda não haver uma resposta clara sobre o que causou o blecaute e atribuiu essa falta de informação a um “jogo de empurra” entre os responsáveis. Sauer disse ainda que a gestão do sistema energético brasileiro não atende bem a população e ainda oferece preços altos pelo serviço.
“É mais uma indicação de que há problemas de organização e gestão", afirmou. "O fato de o apagão não ter sido contido de imediato também é uma indicação de que os protocolos de procedimento não estão adequados ou não estão sendo cumpridos.”
O engenheiro explicou que os fatores externos como vendavais, tempestades, acidentes de avião, atos de vandalismo ou invasões por hackers não são suficientes para derrubar o sistema. “Isso por si só não teria nenhuma consequência porque o sistema elétrico interligado é planejado, construído e mantido para que, ao perder um componente importantíssimo, ele continua operando como se nada tivesse acontecido.”
(Por Flávia Albuquerque, Envolverde* / Agência Brasil, 12/11/2009)
*Edição: Enio Vieira