Especialistas consultados pela Agência Brasil afirmaram na sexta-feira (13/11) que, ao atribuir o blecaute ocorrido na última terça-feira (10/11) a problemas climáticos, o governo federal demonstrou certa precipitação, uma vez que apresenta conclusões antes mesmo de avaliar os dados que foram coletados pelos oscilômetros – equipamento usados para acompanhar o volume de energia e o estado dos disjuntores do sistema elétrico.
“A explicação apresentada pelo governo é destinada a satisfazer a curiosidade popular e a atender uma exigência política”, avalia o diretor da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), César de Barros Pinto, que há 45 anos trabalha na operação do sistema elétrico brasileiro..
“Não dá para concluir de forma tão rápida nem os motivos da queda de energia e nem o que causou o efeito dominó para outras subestações, que é o principal a ser investigado”, disse o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Ivan Camargo. "Para se chegar a essa conclusão há que se reunir muitos dados e ainda não houve tempo hábil para o governo fazer isso", acrescenta.
Em 1999, quando trabalhava na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Camargo foi responsável pela fiscalização do blecaute ocorrido a partir da queda de raios nas linhas de transmissão em Bauru. Segundo ele, “há muitas semelhanças entre o blecaute desta semana e o ocorrido em 1999”, que atingiu estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Na época, a equipe da qual Camargo fazia parte concluiu que o blecaute havia sido causado a partir da queda de um raio. “Nem o para-raio que fica por cima da linha de transmissão e nem o que fica situado na subestação funcionaram, causando um curto circuito que estourou o isolamento da subestação e resultou no excesso de corrente elétrica”, lembra.“Quando isso acontece, todas as linhas da subestação são desligadas de imediato.”
Em Bauru, foram quatro linhas e em Itaberá, três. “Só que a quinta linha de Bauru atrasou no seu desligamento, em milésimos de segundos. Como era o coração de todo o sistema, acabou baixando toda a tensão”. Segundo Camargo, isso desencadeou um efeito dominó que chegou até a Usina de Itaipu, responsável pela geração de 20% da região.
“Para o sistema funcionar, é fundamental que, a todo momento, geração e carga trabalhem com a mesma grandeza. Como a gente tem uma geração muito concentrada em Itaipu, a queda dessa usina significa certeza de problemas, porque os outros geradores não têm condições de compensar a diferença e acabam sendo desligados de forma automática, em efeito cascata”, afirma.
O professor explica que há grandes possibilidades de algo similar ter ocorrido na terça feira, uma vez que a subestação de Itaberá tem papel similar ao da de Bauru à época. “Bauru era o único caminho para a rede, tal qual é, atualmente, Itaberá”, confirma o diretor da Abrate.
Para Barros Pinto, o blecaute pode ter sido causado por problemas em disjuntores ou por atuação indevida da proteção diferencial de barra, ambiente de chegada e partida de todas as linhas de transmissão, nas subestações.
“Caso o problema tenha relação com algum disjuntor, a causa inicial seria diferente da ocorrida em 1999, mas as consequências seriam similares, uma vez que em ambos casos a barragem seria afetada”, acrescenta Camargo.
(Por Pedro Peduzzi, Agência Brasil, 13/11/2009)