Apagão em centenas de cidades no Brasil e no Paraguai expõe a necessidade de alternativas limpas de produção de energia elétrica
Na terça-feira (10/11), metade do país ficou às escuras durante quase cinco horas, levando o completo caos a cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que consomem mais de 44,6% da energia residencial no país. Milhões de pessoas em mais de 800 cidades de 18 estados do país e em todo Paraguai foram atingidas diretamente pela falta da energia elétrica da Usina Binacional de Itaipu.
De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo foram totalmente afetados. Já os estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Acre, Rondônia, Bahia, Sergipe, Paraíba, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte foram afetados parcialmente.
Naquela noite, em entrevista coletiva, o ministro das Minas e Energia atribuía a falha a “questões atmosféricas”, tese reforçada pelos porta-vozes de Itaipu de que o problema estaria na transmissão e não na geração de energia. Furnas informou que a falha ocorreu em três linhas de transmissão entre os estados de Paraná e São Paulo.
O fato é que, sem ter para onde enviar os 14 gigawatts de potência geradas naquele instante, todas as turbinas de Itaipu foram automaticamente desligadas. Os porta-vozes de Itaipu disseram que a usina operava a toda potência, e que, no momento do apagão, era esta a energia que abastecia a maior parte das regiões dos estados atingidos.
Diversificando o menu - Enquanto especialistas e críticos vão aos jornais falar da “fragilidade do sistema”, “falta de investimentos” ou “falha de gestão”, pouquíssimos se lembraram de chamar a atenção para uma possibilidade há muito defendida pelo WWF-Brasil: a inclusão, no sistema, de fontes renováveis não convencionais limpas e investimento em eficiência energética.
Atualmente, a matriz energética depende fortemente de energia hidrelétrica, com apoio de usinas termelétricas – que, diga-se de passagem, são altamente poluentes – e, em menor grau, de usinas nucleares, eólicas e de biomassa. Com todos os ovos em uma só cesta, seria presumível que uma falha pudesse ocorrer, com grande impacto.
O WWF-Brasil defende a diversificação das fontes de energia limpa – principalmente com o uso de produção eólica e de biomassa – como forma de preparar o país para as incertezas de um futuro pautado pelas mudanças climáticas (que atingem primeiramente os recursos hídricos, fonte primordial da matriz brasileira, hoje), e reduzir o impacto da produção de energia sobre o ambiente e as pessoas.
Para o WWF-Brasil não se trata de substituir a energia hidrelétrica pela produzida por fontes não convencionais, mas de oferecer ao sistema um menu diversificado e ambientalmente sustentável, que possa ser somado à matriz.
A organização ambiental acredita que investimentos de médio e longo prazo em novas fontes de energia não somente irão oferecer segurança energética como, também, reduzir a dependência de recursos hídricos e a demanda por novas barragens e seus impactos negativos sobre o ambiente e sobre a cultura e o meio de vida das populações ribeirinhas.
Alternativas - Entre as chamadas fontes alternativas ou não convencionais de energia elétrica destaca-se a eólica – energia produzida pelos ventos – que, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em seu Atlas da Energia Elétrica do Brasil, tem um potencial de nada menos que 143,4 GW – ou dez Itaipus – ,metade dos quais concentrados no Nordeste.
Enquanto isto, o boom de produção de álcool esperado para um futuro próximo pode ampliar o volume de biomassa residual da cana, que, hoje, tem um potencial de produção de cerca de 10GW, apenas no Sudeste. Atualmente, somente 3,1GW são efetivamente aproveitados.
A Agenda Elétrica Sustentável 2020, do WWF-Brasil, publicada em 2006, propõe um cardápio considerado até conservador, que poderia ser oferecido em 2020, com o investimento adequado e a vontade política necessária: a biomassa responderia por 7,6% da energia produzida no país e a produção eólica ofereceria 6%. O percentual de energia hidrelétrica do país seria reduzido de 75% para 67,9%. Já seria um ganho enorme para a natureza, para a população e para os negócios.
(Por Gadelha Neto e Mariana Ramos, WWF-Brasil / EcoAgência, 14/11/2009)