As matas do norte do planeta armazenariam o dobro do dióxido do carbono das florestas tropicais, por isso um estudo canadense afirma que elas deveriam ganhar mais atenção nas negociações climáticas mundiais do que recebem atualmente
Quando se fala em preservação de florestas, principalmente no contexto das mudanças climáticas, logo vem à cabeça imagens da Amazônia e de grandes matas tropicais em países como a Indonésia. Porém, um estudo publicado nesta semana demonstra que as florestas boreais, localizadas em nações geladas como Rússia e Canadá, armazenam o dobro do dióxido de carbono (CO2) das tropicais e por isso deveriam ser também objeto de interesse das autoridades climáticas.
Chamado de “O carbono que o mundo esqueceu” ("The Carbon the World Forgot"), o relatório foi produzido pelo Canadian Boreal Initiative com apoio do Boreal Songbird Initiative, entidades que reúnem grupos de conservação, empresas e instituições financeiras.
Segundo o documento, as florestas boreais do Alasca, Canadá, norte da Europa e Rússia armazenam 22% de todo o CO2 da superfície terrestre, um total estimado em 703 gigatoneladas, enquanto as florestas tropicais conteriam 375 gigatoneladas. “Estudos passados subestimaram demais a quantidade do carbono armazenado nas áreas boreais, principalmente no subsolo”, explicou Jeff Wells, um dos autores do relatório.
De acordo com os pesquisadores, enquanto as florestas tropicais armazenam o carbono na vegetação em si, as boreais possuem grandes quantidades de gases do efeito estufa no solo congelado e nas áreas de turfas.
A explicação para este fato é que, com o frio, a biomassa se decompõe lentamente e, assim, o solo acumula carbono com o tempo. Cientistas já teriam encontrado carbono armazenado intacto por mais de oito mil anos.
Questão de urgência
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que 17% das emissões mundiais são provenientes do desmatamento (apesar de um estudo recente ter reduzido essa porcentagem para 12%), e como a maior parte deste desmatamento ocorre em florestas tropicais, elas sempre foram o foco maior nos debates climáticos internacionais.
Para Wells, as autoridades climáticas devem manter seu interesse em preservar as florestas tropicais, mas as boreais precisam também ser parte das negociações para mitigar as mudanças climáticas.
“Qualquer resposta efetiva para as mudanças climáticas devem incluir as florestas boreais. Esse relatório deixa claro que as nações não devem se concentrar apenas nos trópicos, mas que também olhem para as nossas matas ricas em carbono”, afirmou Steve Kallick, diretor do Pew Environment Group’s International Boreal Conservation Campaign.
Outro estudo recente publicado no periódico Trends in Ecology and Evolution descreveu que 60% das florestas boreais estão degradadas e fragmentadas, enquanto apenas 10% estão sob proteção. As indústrias de madeira e mineração, assim como as queimadas, são as principais responsáveis pela destruição dessas matas. A Rússia seria o país que menos respeita suas florestas.
Em entrevista ao site Mongabay, o pesquisador Holly Gibbs, da Universidade de Stanford, reconheceu a importância de se preservar as florestas boreais, mas explicou porque a Amazônia e outras florestas nos trópicos merecem maior atenção.
“Nós temos que proteger as florestas de todo o mundo, porém são as tropicais e suas 340 bilhões de toneladas de carbono armazenado que estão sob uma ameaça maior e mais urgente, e por isso requerem nossa atenção imediata”, concluiu Gibbs.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 13/11/2009)