O pinhão manso, uma semente que chegou ao Vale do Rio Pardo com os tropeiros entre os séculos XIX e XX, poderá se tornar uma nova matriz econômica para a região. Essa é uma das tendências apresentadas no 1º Congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão Manso, que terminou ontem em Brasília.
No evento foram detalhadas pesquisas coordenadas pelo Ministério da Agricultura que apontaram a eficácia da planta para a geração de energia. Os resultados surpreenderam até mesmo o ministro Reinold Stephanes. “Temos a espécie ideal em nossas mãos para garantir um futuro promissor aos biocombustíveis. Agora devemos investir em pesquisas e estudos para sua consolidação”, disse. Pelas análises do ministro o pinhão manso é visto como a matéria-prima ideal para futura produção em larga escala de biodiesel.
Stephanes ressaltou que a oleaginosa apresenta características necessárias, tanto de adaptação às mais diversas condições climáticas, quanto de capacidade energética para produzir óleo de qualidade. Em Santa Cruz do Sul a variedade é alvo de um projeto da Cooperfumos, uma cooperativa ligada ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que há pelo menos quatro anos vem estimulando o plantio.
Nesse período, cerca de 1 milhão de mudas foram preparadas e distribuídas a agricultores gaúchos. Atualmente existem 400 hectares plantados no Estado, sendo que metade deles estão no Vale do Rio Pardo. “Estamos apostando na produção de energia a fim de estimular a diversificação das pequenas e médias propriedades”, diz o presidente da Cooperfumos, Gilberto Tuhtenhagen.
NA REGIÃO
Os estudos com o grão iniciaram a partir de informações indicando a capacidade produtiva. Em uma reunião com agricultores foi apresentada a sugestão de se investir na variedade.
“Um morador da região de Marques Bruhms, na divisa entre Rio Pardo e Passo do Sobrado, disse que tinha um pé em sua casa. A partir dali fomos encontrando várias mudas e coletamos as sementes para preparar novas. Ainda buscamos sementes no Mato Grosso a fim de garantir uma boa produção”, conta.
Os associados da Cooperfumos então receberam as mudas e passaram a cultivar. Entretanto, no inverno passado a geada danificou as plantações. Agora a expectativa é de que em dois anos volte a haver um bom rendimento.
Até lá vão ser realizados experimentos a fim de desenvolver o cultivo consorciado com outras variedades com a proposta de garantir mais proteção contra o frio. “O pinhão manso chegou à região trazido pelos tropeiros. Ele era usado para tratar pneumonia em cavalos e se desenvolveu bem”, disse Tuhtenhagen. A semente é encontrada com maior abundância em Minas Gerais.
OS TROPEIROS
A figura dos tropeiros foi retratada nos fascículos da série Rio Pardo 200 Anos - Uma luz para a História do Rio Grande, produzida pela Gazeta do Sul e será tema também do livro Uma Luz para História do Rio Grande - Rio Pardo 200 anos Cultura, arte e memória a ser lançado no começo do ano que vem. Os tropeiros foram personagens comuns no Estado nos séculos XVIII, XIX e parte do XX, quando a economia gaúcha girava em torno do gado. Esses trabalhadores eram os responsáveis por transportar as tropas entre as estâncias.
(Gazeta do Sul, 13/11/2009)