Instituto diz que houve descargas elétricas próximo a Itaberá, possível foco do problema, mas a 30 km da subestação de energia
A possibilidade de que descargas elétricas ou mesmo fortes chuvas tenham provocado o apagão, como vêm afirmando autoridades do governo federal, é remota, dizem especialistas ouvidos ontem pela Folha. "Em três das quatro linhas que saem de Itaipu é 100% certo que não houve descarga elétrica", afirma Osmar Pinto Jr., coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe.
O sistema que mede a queda de raios nas linhas de transmissão foi criado após o apagão de 1999. "Nós não fomos consultados pelo governo hoje [ontem]", disse Pinto Jr., um dos maiores pesquisadores de eletricidade atmosférica do país. Segundo ele, a chance de um raio ter caído sobre a quarta linha também é praticamente nula. "Se quiser colocar um número, 99% de certeza que o apagão ocorreu por causa de uma falha no sistema. O que não significa que ele seja ruim."
O Inpe confirma que houve descargas elétricas na região de Itaberá (sul de SP), possível foco do problema que provocou o apagão, mas a cerca de 30 km da subestação de energia e entre 2 km e 10 km das linhas de transmissão de Itaipu. Também houve uma forte tempestade em Itaberá por volta das 22h15 de anteontem, horário em que houve a queda no fornecimento de energia. "Mas só chuva não derruba a transmissão", diz Pinto Jr.
O diretor-executivo da Abrate (associação das grandes empresas de transmissão de energia), César de Barros, diz que, pelas características do incidente, culpar a meteorologia é implausível. "É pouco provável que três raios caiam simultaneamente em três linhas". Ventos e chuva muito fortes, diz, são capazes de causar tal estrago, mas isso não aconteceu, já que a linha foi religada no início da manhã de ontem. Se uma torre tivesse caído, o reparo seria mais demorado.
Para Miracyr Marcato, diretor da área de energia elétrica do Instituto de Engenharia de SP, o sistema de transmissão é "robusto" para suportar chuvas. E, diz, seria difícil que raios causassem problemas em mais de um local. "O Brasil tem alta incidência de raios, mas existem para-raios. Se raios atingiram três linhas, é algo inédito."
(Folha de S. Paulo, 12/11/2009)