O trabalho conjunto entre a Botânica e a Zoologia resultou na maior pesquisa de sucessão animal e vegetal do Sul do Brasil e a única do Centro do Estado. A partir do estudo, realizado por alunos e professores do curso de Biologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), 35 novas espécies de cogumelos foram encontradas no Parque Ambiental da Souza Cruz. Os resultados foram apresentados à imprensa ontem pela manhã.
Coordenada pelos professores doutores Jair Putzke e Andreas Köhler, a atividade durou cinco anos. Até então, a descoberta de novos cogumelos, fruto do processo de sucessão vegetal naquela região, era desconhecida pela ciência. “Os fungos não vêm para cá sozinhos, existem animais trazendo. Tem um mato lindo aqui (no parque) que é bem preservado, mas as sementes não estão vindo dele e sim de outras áreas”, explica Putzke.
Segundo o professor, a ideia foi verificar o que acontece com as plantas e os bichos que entram nesse terreno. “Estamos tendo a chance de analisar o processo, quais são as espécies que ingressam, que saem, que são excluídas e de como o entorno ajuda. É a primeira vez que fazemos pela ciência um estudo desse tipo de situação numa área industrial”, ressalta.
O projeto está em fase de renovação. De acordo com Putzke, o objetivo é fazer com que o estudo seja permanente. “Queremos mais gerações trabalhando com isso porque, em termos de meio ambiente, não podemos pensar em poucos anos, tudo é muito demorado, e uma sucessão completa acontece em 250 anos”, observa. Ele lembra que o trabalho abre as portas para uma série de outros cursos e pesquisas, em especial por parte dos universitários. Nessa etapa, atuaram 11 voluntários e quatro bolsistas.
Conforme Köhler, nos últimos cinco anos, 17 pontos de coleta foram armados nos arredores do Parque Ambiental. “Estamos avaliando todos os animais que caem para dentro dessas armadilhas: formigas, aranhas, moscas, escorpiões ou qualquer outro tipo que passar justamente por lá. Podemos traçar um vínculo bem claro entre qual o ambiente e quais são aqueles que atendem e usam esse espaço para se locomover”, salienta.
PRÊMIO
Além de Putzke, a equipe de bolsistas da Botânica é formada por Manoela dos Santos e Morgana Pereira da Costa. Compõem a Zoologia, Köhler e as estudantes Carla Böer e Joana Silveira.
Para o gerente de Assuntos Corporativos da Souza Cruz, Flávio Goulart, o trabalho da Unisc contribui com a ciência e o desenvolvimento ambiental. “Dessas atividades tenho certeza que várias outras serão desmembradas.” No mês passado, a empresa recebeu, em Florianópolis, o prêmio Expressão da Ecologia, promovido pela Editora Expressão. Conforme Goulart, o parque, que possui 65 hectares e fica próximo da entrada da empresa, foi contemplado na categoria Recuperação de Áreas Degradadas – Setor do Agronegócio.
ESPÉCIES ENCONTRADAS
De acordo com o professor Jair Putzke, dentre as novas espécies de cogumelos identificadas estão Pluteus, Campanella, Tricholomopsis, Panellus, Hydnum, Marasmius, Hygrocybe, Hohenbuehelia, Leucocoprinus, Melanotus, Gerronema, Favolaschia, Gyrodon, Filoboletus, Schyzophyllum, Macrolepiota e Neoclitocybe. “O primeiro fungo que descobrimos, chamamos de Marasmiellus lutenzbergii, em homenagem ao ambientalista José Lutzenberger, que foi um dos idealizadores do Parque Ambiental”, completa Putzke.
DADOS GERAIS
Período de coletas: 10/2005 a 10/2009
Número de amostragens: 70
Número de pontos de coletas: 17
Número de armadilhas pit-fall: 68
Número de indivíduos (insetos) coletados: 318.021
Número de táxons de invertebrados: 24
Número de espécies de árvores: 55
Número de espécies de arbustros: 145
Número de espécies de liquens (fungos e algas): 31
Número de espécies de briófitas (musgos): 16
Número de espécies de pteridófitas (samambaias): 16
(Gazeta do Sul, 10/11/2009)