A crise econômica mundial, que começou no final de 2008 e seguiu até a metade deste ano, afetou bastante os galpões de reciclagem de Canoas. Isso porque reduziu não apenas a quantidade de material de trabalho como afastou muitos recicladores, que se assustaram com a baixa renda. Mesmo assim, os quatro galpões movimentam hoje até R$ 10 mil diariamente. Por mês, os locais recebem uma média de 70 toneladas de lixo, proveniente da Coleta Seletiva da Prefeitura.
Oitenta e uma famílias sobrevivem da reciclagem, sendo 30 na Associação de Reciclagem de Lixo Amigas Solidárias (Arlas), no bairro Guajuviras; 15 na Associação dos Carroceiros e Catadores de Material de Canoas (ACCMC), no Mathias Velho; 16 na Associação de Triagem e Reciclagem Mato Grande (Atremag), no Mato Grande, e 20 na Associação Renascer, na Fazenda Guajuviras. A maioria das famílias tem a mulher como chefe. É o caso da recicladora Licimara Nunes Gonçalves, 38 anos, que sustenta sozinha os seus 11 filhos. "Faz três anos que trabalho aqui e é daqui que eu e meus filhos sobrevivemos", comentou.
De acordo com a presidente da Arlas, Beatriz Aguiar da Silva, a renda média mensal dos recicladores dos quatro galpões varia entre R$ 520 e R$ 450, mas esse valor já chegou a até R$ 800 antes da crise econômica. "Já tivemos melhor, mas não podemos esquecer que daquele montante que movimentamos por dia devem ser descontados as contas de água, energia elétrica, telefone e outros", explicou.
DESAFIO - O desafio atual das entidades é aproximar novos trabalhadores. "Estamos com defasagem no quadro de pessoas nos quatro galpões. Queremos resgatar a autoestima dos trabalhadores para que eles retornem. Também estamos estudando o pagamento de um 13º salário aos trabalhadores", acrescentou Beatriz.
Para escapar da crise, os espaços de reciclagem começaram a vender os materiais diretamente para as indústrias, principalmente o plástico. Mas para fazer isso eles tiveram que enfrentar a resistência dos repassadores, que são as pessoas que compram o material dos galpões e levam às fábricas. O material mais nobre é o plástico de Polietileno de Baixa Densidade (PEBD), utilizado por indústrias alimentícias, têxteis, de auto-peças, confecções, metalúrgicas, entre outros. O quilo do PEBD custa R$ 1,10. E o material menos nobre são as sacolas plásticas, vendidas a R$ 0,10 o quilo.
Recicladores recebem curso de qualificação
Os 81 trabalhadores dos galpões de reciclagem participam de um projeto da empresa Vonpar e fazem cursos de capacitação nas áreas de gestão, informática, reconhecimento dos materiais recicláveis e das fábricas que trabalham com os materiais e intercâmbio de conhecimentos. Eles também têm parceria com a Universidade Luterana do Brasil e Centro Universitário La Salle, além de outras entidades.
A recicladora Márcia Carpes, 31, é uma das beneficiadas. Ela trabalha com reciclagem há um ano e três meses. "Estava desempregada e meu marido não estava conseguindo arcar com todas as despesas sozinho. Agora estou aqui, aprendendo, me qualificando e ajudando no sustento dos meus três filhos, de 12, 10 e 9 anos", comemora.
Coleta seletiva recolhe até 70 toneladas diárias
Todo o material reciclável que vai para os quatro galpões de reciclagem são provenientes da Coleta Seletiva da Prefeitura. Tudo o que é recolhido pelos caminhões é repassado aos recicladores. Diariamente, cada estabelecimento recebe de duas a três toneladas de lixo por dia.
Os caminhões de coleta seletiva circulam em 15 bairros da cidade, em dias e horários diferentes, de segunda a sábado. No São José e Nossa Senhora das Graças, os veículos passam duas vezes na semana. Mais informações sobre os horários podem ser obtidas pelo telefone 3462.1650.
É importante separar os materiais por lixo seco - garrafas, copos, cacos de vidro, revistas, jornais, papelões, cadernos, sacos plásticos, embalagens plásticas, embalagens longa vida, isopor, latas, tampas de garrafas, pregos, tubos, canos PVC. Não é necessário separar os materiais do lixo seco, o importante é lavar bem os recicláveis e embalá-los em um saco plástico. Para a coleta convencional devem ser encaminhados os materiais orgânicos como restos de comida, cascas de frutas e legumes, papéis molhados ou engordurados e os rejeitos (papel higiênico, fraldas descartáveis, absorventes e curativos).
(Jornal VS, 09/11/2009)