Uma mulher jurada de morte. Assim está a vida da irmã Geralda Magela da Fonseca, de 47 anos, a irmã Geraldinha, uma religiosa franzina da congregação Romana de São domingos, de olhar cativante e determinada na luta pelos direitos das famílias que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Desde o último final de semana, a freira, que defende a punho forte a desapropriação de uma fazenda em Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha, vive escondida. Segundo ela, desde o ano passado, as ameaças aumentaram, o que fez com que, agora, a religiosa abandonasse o local.
Em umas das últimas ligações recebidas pela freira, na semana passada, ainda em Salto da Divisa, uma pessoa a ameaçou de morte. "Eles disseram que vou pagar por tudo que eles estão passando. O homem falou que, se eu passasse em frente à casa dele, levaria um tiro na cara", contou assustada a religiosa.
Pessoas ligadas à irmã Geraldinha, disseram que as ameaças estariam partindo de proprietários da Fazenda Monte Cristo - imóvel considerado improdutivo, que não cumpre sua função social, pelo Incra e, segundo o órgão, em fase de desapropriação. Porém, o Ministério Público, que investiga o caso, não confirmou a informação.
Um dos membros da família proprietária da fazenda, o prefeito de Salto da Divisa, Ronaldo Cunha, foi procurado pela reportagem. Até o fechamento desta edição, ele não havia se pronunciado.
Desde agosto de 2006, um outro terreno, próximo à fazenda Monte Cristo, está ocupado por dezenas de integrantes do MST. "É um terreno que também pertence aos proprietários da fazenda. Foi uma maneira que achamos para estarmos próximos e reivindicar a desocupação", disse a freira. Irmã Geraldinha está amparada pelo Programa Nacional de proteção aos defensores dos Direitos Humanos, pelas polícias Civil e Militar, e pelo Ministério Público.
Emoção
Irmã Geraldinha emocionou-se ao lembrar do assassinato da irmã Dorothy Stang, aos 73 anos, em fevereiro de 2005. A religiosa que lutava em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais, foi morta a tiros em Anapu (PA). Um fazendeiro, suspeito do crime, foi absolvido pela Justiça. "Irmã Dorothy é um exemplo a ser seguido. Ela nunca se intimidou", disse a religiosa.
Segundo frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra, irmã Geraldinha também auxilia 11 famílias de posseiros da fazenda Monte Cristo que adquiram, na Justiça, a posse de parte do imóvel. “As ameaças se intensificaram quando ela começou a auxiliar essas famílias.”
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia vai criar um projeto-piloto para o Programa Nacional dos Protetores dos Direitos Humanos. “O objetivo é manter a pessoa ameaçada na sua localidade, com segurança”, disse o deputado Durval Ângelo (PT).
(Por Richard Lanza e Hellem Malta, Super Notícia / IHUnisinos, 06/11/2009)