O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a discussão sobre a exploração da camada de petróleo do pré-sal, afirmando que todos os debates em torno do tema estão focados na partilha dos recursos provenientes da exploração, e nada se fala sobre os cuidados ambientais que o processo deve considerar.
“Parece que nós descobrimos a pólvora, e vamos logo botar fogo nela, para explodir. Nós temos a maior discussão no Congresso Nacional que diz respeito a como distribuir os frutos de um petróleo que não existe ainda. A questão substantiva, de quais vão ser os cuidados para que isso não seja destruidor do meio ambiente, e como nós vamos agir diante das outras tecnologias [alternativas], não tem uma palavra, não tem uma discussão”, disse Fernando Henrique durante o lançamento da Carta de São Paulo – Por uma Nova Governança Mundial.
Fernando Henrique criticou também o sistema de partilha sugerido pelo governo, para substituir o de concessão, atualmente utilizado,na exploração do petróleo no pré-sal. Segundo o ex-presidente, nesse aspecto, não se tem foco nenhum. "Toda a discussão é sem números, de custo, de hipótese do preço do petróleo, nada. Só tomamos uma decisão, fruto de uma visão de estado malposta. Vamos estatizar o risco. No sistema de partilha, como o governo cobre os custos todos da exploração, se não se acha petróleo, ele paga o risco. Estatizaram o risco, eu nunca vi isso.”
O ex-presidente ressaltou que o país, em virtude das novas descobertas de petróleo, tem deixado de atentar para as opções de energia existentes. De acordo com ele, o país passou anos gabando-se de que tinha energia verde, o que agora parece esquecido."Biodiesel é hoje alguma coisa arqueológica, ninguém mais fala, sumiu. Estamos a ponto de esquecer o etanol. Nós estamos ainda pré, pré, pré o que gostaríamos de ver no mundo, uma atitude consciente em relação as gerações futuras”, afirmou.
Sem criticar diretamente o governo federal, Fernando Henrique ainda argumentou que o país está em um momento em que o problema maior não é mais a falta de recursos, e sim a gerência deles.
“Nem tudo é uma questão de recursos financeiros. Muitas vezes é a nossa incapacidade de bem geri-los. Nesse momento, o nosso orçamento está entupido de dinheiro. E a nossa sociedade com falta de obras e de terminar as obras. Faltou dinheiro? Não. Faltou capacidade de fazer. Eu não estou acusando governo, não. É nacional”, disse ele.
(Por Bruno Bocchini, Agência Brasil, 08/11/2009)