No Estado onde são conhecidas pelo nome Minuano e Nordestão e inspiraram a mais famosa saga da literatura gaúcha (O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo), rajadas de ar se transformam em energia há quase três anos. Agora, vão gerar ainda mais riqueza e empregos. Cerca de uma dezena de fabricantes de equipamentos para aerogeradores se instalará em Guaíba. Está prevista para esta semana a assinatura do protocolo do cluster industrial eólico com o governo do Estado, que concederá incentivos para um investimento ao redor de R$ 100 milhões, com potencial para gerar 2 mil postos de trabalho.
Viver de vento está se tornando possível. A formação do cluster – conjunto de empresas que atuam no mesmo segmento em uma mesma região, como o polo calçadista do Vale do Sinos – culmina pouco antes do leilão de geração eólica previsto para 14 de dezembro, quando vários projetos previstos para o Estado disputarão a chance de tirar sustento do ar.
Embora o anúncio do cluster eólico preceda o leilão, a instalação das indústrias independe do volume de projetos gaúchos que consigam vender sua geração, assegura o coordenador da assessoria técnica da Secretaria de Infraestrutura e Logística, Edmundo Fernandes da Silva. A implantação é importante por representar a consolidação de uma nova tecnologia no Estado. Estrangeiras como a americana Windtec, a britânica Romax, a alemã LDW e a espanhola Aeroblade terão a companhia de indústrias brasileiras como a catarinense Weg para garantir índice de nacionalização de 85% – uma provável exigência do leilão.
Dos 86 projetos gaúchos cadastrados para o certame, 27 podem passar à fase seguinte, a de habilitação. Os selecionados serão conhecidos no dia 5 de dezembro. Esse é o número dos que já foram confirmados pelos empreendedores e receberam licença ambiental – condição para participar. O total no país chega a 441, mas as perspectivas mais positivas são de que 10% se concretizem. Tudo vai depender do detalhamento das regras, como preço máximo, ainda não conhecido pelos candidatos.
– Não queremos vantagens, mas também não aceitamos que outros tenham facilidades especiais. Quremos manter a data, porque, com as regras atuais, o Rio Grande do Sul tem uma chance muito grande de ser bem aquinhoado nesse leilão – avalia Fernandes da Silva.
Afinal, o Estado já abriga o maior parque da América Latina, o Ventos do Sul, em Osório, tem uma rede elétrica robusta para conectar os novos projetos à rede elétrica e está prester a facilitar o fornecimento de equipamentos. Além disso, Fernandes aponta outra vantagem:
– O Rio Grande do Sul tem situação estratégica. O Uruguai não tem mais de onde tirar energia, e a Argentina enfrenta dificuldades. Podemos nos tornar autossuficientes e exportar para os países vizinhos. Energia e equipamentos.
(Por Marta Sfredo, Zero Hora, 08/11/2009)