Chuvas resultaram nos maiores níveis em 10 anos e ANA prepara até uma 'sala de crise' para prevenir catástrofes
O excesso de chuvas no mês passado fez os principais reservatórios do País alcançarem o nível mais alto dos últimos dez anos e pôs o governo em alerta. A perspectiva é de aumento no risco de inundações, no fim deste ano e no início do próximo. A Agência Nacional de Águas (ANA) criará hoje uma "sala de situações" para controlar diariamente o volume dos reservatórios, mobilizar a Defesa Civil dos Estados e tentar evitar emergências e catástrofes que podem atingir tanto cidades quanto áreas de cultivo. O diretor-presidente da ANA, José Machado, e o diretor Benedito Braga relatarão hoje os problemas previstos para o ano hidrológico 2009/2010, que começou em outubro.
O açude Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte, é um exemplo. Em outubro de 2008, estava com 92,72% da capacidade e já alcançou 94,22% neste ano. Com menos água, no ano passado, causou grandes estragos, principalmente para a economia potiguar, pois as enchentes atingiram vastas áreas agricultáveis. Outras áreas do País, adiantou a ANA, já estão em situação vulnerável com relação a enchentes.
Como as chuvas caem fortemente desde outubro em praticamente todo o território nacional, são raros os reservatórios de hidrelétricas e açudes usados para o abastecimento de água que não estejam com o nível bem alto, em comparação com o ano passado. As águas da represa da Usina Hidrelétrica de Capivara, no Rio Paranapanema, por exemplo, atingiram 95% do nível do reservatório. No ano passado, nesta época, estavam em 80%, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Nos meses de março e abril, ainda em consequência da subida no nível dos rios e do excesso de chuvas, houve inundações de cidades inteiras no Maranhão - como Trizidela do Vale -, destruições de pontes, interrupção de rodovias e alagamento de regiões em quase todo o Estado. Também penaram com as enchentes as populações do Piauí e do Rio Grande do Norte, Estados que normalmente não sofrem esse tipo de problema.
Amazonas e Pará também tiveram dificuldades, embora nesses casos as enchentes não sejam incomuns. Em 2009, as cheias já atingiram quase todo o Estado do Espírito Santo. Santa Catarina enfrenta problemas com as enchentes desde o ano passado. A cidade de São Paulo também registrou pelo menos duas inundações nos últimos meses - atípicas.
Cientistas que observam o avanço das enchentes no País afirmam que essas cheias são um alerta para a necessidade de os países se conscientizarem de que precisam tomar providências para evitar a emissão de gases de efeito estufa. O fenômeno estaria mudando o clima do planeta, provocando enchentes descomunais, tsunamis, tufões e terremotos. Neste ano, por exemplo, as cheias já preocupam países de todos os continentes, incluindo China, Índia, Filipinas, Turquia e Senegal.
(Por João Domingos, O Estado de S. Paulo, 05/11/2009)