Caro Editor da Forbes,
O recente artigo da senhorita Serafin sobre Stephan Schmidheiny não cumpre nem mesmo os mínimos padrões de jornalismo investigativo intelectualmente honesto dos quais a Forbes é tão bem renomada, mas, ao invés disso, parece que vocês simplesmente imprimiram um press release enviado pela equipe de relações públicas de Schmidheiny. Embora possa ser verdade que ele doou recursos significativos a vários empreendimentos de caridade, a realidade que permanece é que a fortuna da família dele deriva unicamente de um século de exploração criminal de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo.
De fato, o próprio Schmidheiny foi recentemente intimado pela juíza Cristina Palmesion e processado ao lado de outro executivo da Eternit sob a acusação de provocar criminalmente exposições negligentes ao amianto em Casale Monferrato e outras cidades italianas. O julgamente dele começará em 10 de dezembro deste ano, em Turim, na Itália, e, se for condenado, ele receberá a sentença de 12 anos de prisão. Não é à toa que ele esteja usando vocês para tentar limpar a imagem dele antes do julgamento.
A Eternit desenvolveu um negócio a nível mundial baseado na manufatura de materiais de construção com amianto sem mesmo considerar os mais básicos cuidados para a saúde e a segurança dos trabalhadores. Como resultado, há epidemias de doenças relacionadas ao amianto, incluindo asbestose, câncer de pulmão e mesotelioma, um câncer cuja única causa conhecidade é a exposição ao amianto, em comunidades ao redor das fábricas de Schmidheiny por toda a Europa e em outros lugares, incluindo a mais distante unidade em Osasco, no Brasil, onde ele foi empregado brevemente quando era jovem.
Ainda que tenha trabalhado lado a lado com operários brasileiros, desde que deixou aquele país Schmidheiny abandonou totalmente qualquer conexão com eles, apesar das sucessivas súplicas destes empregados. O Sr. João Francisco Grabenweger, um companheiro de trabalho que foi encarregado pela diretoria da companhia em guiar e acompanhar Schmidheiny em Osasco por ser descendente de austríaco e fluente em alemão, esperou em vão para ouvir o magnata até que, infelizmente, ele faleceu devido a uma doença relacionada ao amianto.
Até hoje a Eternit continua lutando contra os esforços dos seus empregados brasileiros que estão desesperadamente procurando uma compensação razoável. Para os milhares de trabalhadores vitimizados, os abandonados integrantes de suas famílias e os membros da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA), sua tentativa de santificar Schmidheiny é uma obscenidade.
O mal provocado pela família de Schmidheiny e pelos negócios dela alcançou os Estados Unidos também. Eu sou um advogado de defesa que passou os últimos 35 anos lutando pelas vítimas do amianto. Em 2001, nossa firma levou a subsidiária da Eternit nos EUA a julgamento em nome de Don Lee Henderson e sua esposa, Marlene Henderson. O Sr. Henderson foi diagnosticado com mesotelioma no verão [do hemisfério norte] de 2001 e, em dezembro daquele ano, o júri da Alameda County proferiu, de maneira unânime, um veredicto contra a Eternit, com base no design defeituoso de seus produtos de fibrocimento de amianto, em sua falha em alertar os perigos da substância e em sua negligência no fornecimento destes materiais aos clientes.
A Eternit reservou US$ 300 mil para bancar os seus advogados, mas, quando a sentença de US$ 2,5 milhões foi proferida, ela imediatamente levou sua filial à bancarrota em vez de cumprir sua obrigação legal e moral com os Hendersons. Este caso foi um de muitos e a empresa continua evitando sua responsabilidade legal e moral com milhares de vítimas ao redor do mundo.
Este é o verdadeiro legado de Stephan Schmidheiny, de sua família e do negócio dela - a Eternit. Chamá-lo de "Bill Gates da Suíça" foi um insulto ao Bill Gates e às vítimas da Eternit.
(Por Steven Kazan, Kazan Law Blog / Ambiente JÁ, com tradução de Rodrigo Brüning Schmitt, 05/11/2009)