A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recebeu nesta quarta-feira (04/11) da empresa multinacional Monsanto R$ 8,3 milhões em royalties por conta da parceria criada em 2000 para desenvolver a soja transgênica no Brasil. As sementes, colocadas no mercado em 2005, já renderam quatro repasses à Embrapa, somando R$ 20 milhões. Os recursos, colocados em um fundo para pesquisa administrado pelas duas empresas, estão sendo usados para desenvolver novas tecnologias - na sua maioria, para novas sementes transgênicas.
A mais desenvolvida até agora é a de um feijão resistente à mosca branca, uma das principais pragas que ataca a lavoura, iniciada com o primeiro repasse de recursos, há três anos. O resultado comercial, no entanto, só deve aparecer em cerca de dois anos. Desta vez, mais oito pesquisas foram selecionadas por um comitê gestor do fundo de pesquisa. Uma das principais também envolve o feijão. A ideia é desenvolver uma planta mais resistente à seca, criada através da introdução de genes da soja e da mamona.
Outra pesquisa envolve a identificação de recursos genéticos de tolerância à seca em arroz, milho, trigo e sorgo. Os demais projetos visam controlar pragas que afetam o algodão, o mamão, o milho, a batata e a soja. "Com esses recursos podemos investir em culturas que não são o 'primo rico' da agricultura, como a soja, que é uma commodity. Mas são lavouras importantes no Brasil, como o feijão", disse o presidente da Embrapa, Pedro Antônio Pereira.
O acordo entre a Embrapa e a Monsanto foi feito em 2000, mas as sementes começaram a ser comercializadas apenas em 2005. A Monsanto desenvolveu um gene que torna a planta resistente ao herbicida glifosato e permite uma produção maior. A Embrapa já possuía tecnologia e informações que encurtaram o caminho da Monsanto na criação da planta transgênica. Daí o pagamento de royalties por propriedade intelectual que a empresa recebe todos os anos.
São os administradores do fundo que escolhem os projetos que serão beneficiados com o dinheiro dos royalties. O presidente da Embrapa, no entanto, garante que a empresa tem maioria no comitê gestor. Além disso, diz, a propriedade intelectual de quaisquer pesquisas finalizadas é da empresa brasileira e parcerias para comercialização poderão ser feitas com qualquer empresa.
A Monsanto, no entanto, admite interesse em trabalhar em conjunto. "Nós temos vários trabalhos na área de resistência à seca e podemos sim vir a trabalhar novamente juntos. A Monsanto tem todo o interesse nisso", afirmou o presidente da empresa no Brasil, André Dias.
(Por Lisandra Paraguassú, O Estado de S. Paulo, 05/11/2009)