Brasil pode guardar na manga para conferência do clima de Copenhague medidas mais ambiciosas de redução de emissões. Compromisso de reduzir desmate na Amazônia fica, mas corte de 40% proposto por Carlos Minc pode não ser expresso em números
O governo brasileiro sinalizou nesta terça (03/11) que poderá levar uma meta ampla para diminuir a emissão de gases-estufa apenas como uma carta na manga para a conferência do clima de Copenhague, no mês que vem. Ou seja, somente a apresentará caso haja o comprometimento de outras nações com o tema, em especial China e EUA. Caso contrário, como sugeriu ontem a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), utilizará os dados como medidas internas. A avaliação do governo brasileiro é que a conferência tende a fracassar, por isso a cautela quanto a uma meta internacional.
"O Brasil está disposto a fazer o maior esforço possível para que essa reunião em Copenhague seja bem sucedida, mas ele vai fazer a parte dele. Ele vai fazer por si mesmo algumas propostas que são para o Brasil cumprir. São mais uma oferta e um objetivo que o Brasil vai colocar para si", disse a ministra, que estará à frente da comitiva brasileira na Dinamarca.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revendo sua disposição inicial, sinalizou que só iria a Copenhague se outros chefes de Estado comparecessem. A proposta idealizada, como sinalizou ontem o chanceler Celso Amorim, deve ficar em torno de 40% de redução em relação ao que seriam as emissões brasileiras em 2020 caso nada fosse feito. Não se trata de um corte absoluto, mas sim de um "desvio de trajetória".
A redução em 80% do desmatamento na Amazônia responderia por 20% desse desvio, e os 20% restantes viriam de outros quatro eixos: redução do desmatamento em outros biomas, um setor siderúrgico sustentável, produção de eletricidade limpa e agropecuária eficiente. Porém, diferentemente do que vinha propondo o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), somente a meta de redução do desmatamento deverá ser expressa em números. Os 20% restantes seriam ações que o Brasil declararia, mas sem se comprometer com o resultado.
O governo sabe que, para ter metas ambiciosas, não depende apenas de suas pernas. Principalmente em relação à queda do desmatamento, o Brasil conta com recursos estrangeiros. Os países em desenvolvimento esperam a criação de um fundo de US$ 400 bilhões, mas, por ora, não há ofertas dos países desenvolvidos na mesa.
A definição da meta, caso seja divulgada, depende também da estimativa de crescimento da economia até 2020. O Ministério do Meio Ambiente, a pedido de Dilma, apresentou projeções diante de um crescimento anual médio de 4%, 5% e 6%. Segundo a Folha apurou, Lula e Dilma devem bater o martelo nas estimativas mais altas do PIB (5% ou 6%). Mas isso não deve alterar a meta de 20% por corte no desmatamento. Ontem, Lula reuniu representantes de oito ministérios para tratar do tema. Definiu apenas a cifra para a Amazônia.
Sexta-feira 13
O restante dependerá de projeções a serem apresentadas no dia 13, sexta-feira, pelas pastas. "O número tem de ser credível. Nós não estamos aqui para fazer uma proposta que não tenha credibilidade", disse a ministra, que completou: "Estamos fazendo isso de forma voluntária. Não estamos fazendo isso porque alguém definiu que a gente tinha de fazer".
A falta do anúncio da meta brasileira ontem desapontou ONG ambientalistas que acompanham as negociações do clima em Barcelona. "O governo tinha criado uma expectativa. A sensação é de frustração", disse Katia Maia, do escritório da Oxfam no Brasil. "Essa ausência de metas precisa ser melhor explicada." Paulo Adário, do Greenpeace, criticou a atuação de Dilma. "A sinalização que ela dá nessa discussão é claramente: "Eu não estou interessada nessa discussão ambiental"."
(Por Eduardo Scolese, Kennedy Alencar e Simone Iglesias, Folha de S. Paulo, 04/11/2009)