Dois índios guarani da Aldeia Pirajuí, localizada na cidade de Paranhos (MS), na fronteira com o Paraguai, estão desaparecidos desde o último sábado (31/10). Duas equipes da Polícia Federal em Naviraí (MS) – a cerca de 270 quilômetros de Paranhos - já se encontram no local, apurando as denúncias de que os índios teriam sido detidos por seguranças da Fazenda São Luiz.
Segundo a administradora da Fundação Nacional do Índio (Funai) para a região sul do estado, Margarida de Fátima Nicoletti, os dois desaparecidos, os primos Olindo e Jenivaldo Vera, são professores e acompanhavam o grupo de pelo menos 18 índios que havia ocupado a fazenda quarta-feira (28) passada.
“É uma grande propriedade e, ao que parece, o dono demorou a saber [da presença dos guarani]. Ainda não temos informações exatas sobre o que aconteceu, mas alguns índios garantem que pistoleiros os colocaram para fora da fazenda com violência, disparando balas de borracha e que, na ação, os dois professores sumiram”, disse Margarida à Agência Brasil, explicando que ainda não tem o levantamento com o número de feridos.
Embora índios que presenciaram a confusão garantam que Olindo e Jenivaldo foram detidos pelos seguranças da fazenda, Margarida diz não estar descartada a hipótese de que os dois estejam escondidos, com medo dos seguranças, aguardando pelo melhor momento para escapar. Já a assessoria da PF em Naviraí considera a possibilidade de ambos terem se embrenhado no mato e atravessado a fronteira para o Paraguai.
“Os próprios índios estão ajudando nas buscas. O clima está muito tenso porque muitos deles acreditam que eles tenham sido mortos”, disse Margarida, por telefone. “A comunidade está revoltada e já manifestou que se o Olindo e o Jenivaldo não forem encontrados logo eles vão reunir pelo menos 200 pessoas e entrar na fazenda para procurar por eles. A gente está tentando contornar essa situação, mas até quando vamos segurar isso nós não sabemos”.
De acordo com Margarida, cerca de 45 mil indígenas guarani e kaiowá vivem no sul do estado - pelo menos 350 deles na Aldeia Pirajuí. Juntos, eles reivindicam a demarcação de pelo menos 32 áreas ditas tradicionais, alegando que seus antepassados viviam nelas. De acordo com Margarida, a Fazenda São Luiz - cujo tamanho e situação legal ela não sabe precisar – está sobre uma destas áreas.
“Os índios vivem em territórios muito pequenos e estão revoltados, reclamando a demarcação de novas áreas indígenas nos locais que seus antepassados habitaram. A Funai precisa mesmo se empenhar e dar continuidade a esses estudos [antropológicos] e a sociedade toda tem que colaborar, já que muitos proprietários não querem [a demarcação], e deixar de dizer que o problema dos índios não é terra. Aqui [em Mato Grosso do Sul], grande parte dos conflitos, da violência, é por falta de espaço, pois os índios já provaram que não querem ir para os grandes centros urbanos e deixar de ser índios”, disse a coordenadora.
(Por Alex Rodrigues, com edição de João Carlos Rodrigues, Agência Brasil, 03/11/2009)