Depois de dias com a temperatura alta, temporal destelhou casas, derrubou árvores e deixou mais de 90 mil sem luz no Sul
Acompanhado da chuva, o vento soprou com força na madrugada de ontem no sul do Estado, gerando apreensão e prejuízo para os moradores. As rajadas, que chegaram a 99 km/h no Chuí, espalharam-se pela região, destelhando casas, derrubando árvores, postes e deixando mais de 90 mil residências sem energia elétrica.
No Chuí, segundo a Defesa Civil do município, árvores tombaram e casas tiveram avarias na zona rural, porém sem registro de desabrigados. Os maiores prejuízos ocorreram em Pelotas e Capão do Leão. Já a precipitação foi mais intensa na Campanha, na Fronteira Oeste e no Centro do Estado. Até o fim da tarde de ontem, por exemplo, Santa Maria, na Região Central, havia registrado 76,6 milímetros de precipitação, o correspondente a 61% da média histórica de novembro. Os estragos no sul vieram na carona dos ventos. Tamanha intensidade fez a dona de casa Carla Beatriz Mena, de Pelotas, imaginar que algo muito grave estava acontecendo, no bairro Fragata.
– Fiquei apavorada. Peguei a minha filha e fui para baixo da cama. Parecia que um avião estava caindo em cima da casa – recorda a mulher, gestante.
Ventania desabriga em Capão do Leão
Na verdade, era o telhado do galpão vizinho, arrancado pela força da rajada que alcançou 66 km/h na cidade, segundo a central de meteorologia da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel). O temporal derrubou árvores, levou o telhado de mais casas e do galpão do Corpo de Bombeiros. Mas o transtorno foi além. Só na região de Pelotas, que engloba Capão do Leão, Morro Redondo, Arroio do Padre, Canguçu, Piratini, Cerrito, Jaguarão, Herval e Arroio Grande, 80 mil residências ficaram sem luz no início da manhã.
Conforme a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), cerca de 7,5 mil clientes seguiam sem serviço até o final da tarde. A previsão é normalizar hoje a situação do perímetro urbano dos municípios e amanhã a da zona rural.
A 20 quilômetros de Pelotas, em Capão do Leão o vento derrubou árvores, postes e deixou ao menos seis famílias desabrigadas. Foi uma madrugada de medo. Por volta das 5h, o servente Mauro Douglas Dias, 24 anos, dormia com a mulher Tatiane na casa que construiu no bairro Vila Nova, quando foi despertado pelas rajadas.
– Acordei e o telhado começou a subir e saiu pelos ares – conta.
Desesperado, o casal correu até o quarto para ver os filhos Juan, Kauã e Ana Caroline, de dois, quatro e cinco anos. Apesar de assustados, estavam todos bem.
Já a casa ficou sem teto e sem um pedaço do muro, destruído. A família ainda perdeu móveis e eletrodomésticos, molhados.
– Os móveis não são o problema, a gente conquista de novo. Brabo é ficar sem teto – lamenta Dias, que passou a noite na casa da mãe.
O susto dos Dias se repetiu em outras 20 casas ao longo da cidade, conforme a Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e Meio Ambiente. No bairro Jardim América, o telhado de uma residência voou, destruindo o de duas moradias ao lado.
No mesmo bairro quatro postes tombaram na rua, porém não feriram ninguém. Já no bairro Campo Bom uma figueira desabou e destruiu parte do muro de uma casa. Ontem à tarde, com a trégua da chuva, a Prefeitura distribuiu 165 telhas e lonas. Os trabalhos continuam hoje.
Outras cidades
- Rio Grande – Em Rio Grande a chuva foi amena, acumulou 11 milímetros. Já os ventos da madrugada chegaram a 80 km/h e as ondas alcançaram quatro metros de altura em alto-mar. A situação fechou o porto da cidade das 3h45min às 7h30min. O 5º Distrito da Marinha emitiu um alerta de mau tempo, aconselhando as embarcações a ficarem atracadas. Cerca de 8 mil residências ficaram sem energia elétrica durante a manhã.
- Santa Vitória do Palmar – Três eucaliptos tombaram ao longo da BR-471, interditada durante a madrugada. A Polícia Rodoviária Federal removeu as árvores e liberou a pista pela manhã. Cerca de 3,2 mil casas ficaram sem energia elétrica. A falta de luz atingia 500 residências no final da tarde.
A força dos ventos
- 99 km/h no Chuí
- 80 km/h em Rio Grande
- 70 km/h em Jaguarão
- 66 km/h em Pelotas
- 55 km/h em Canguçu
(Por Guilherme Mazui, Zero Hora, 03/11/2009)