Temperatura acima dos 30°C atinge pelo sétimo dia consecutivo o Estado, gerando marcas históricas. A vizinha Argentina sofre com a estiagem em 90% do território
Pelo sétimo dia consecutivo, em plena primavera, o Rio Grande do Sul sofreu com os termômetros alcançando marcas de verão. A exemplo do que ocorre na Argentina desde a semana passada, em 12 cidades os moradores enfrentaram o maior calor do ano – que beirou os 40°C e provocou reações extremas. Apesar disso, para alívio dos gaúchos, não há previsões de que a estiagem que castiga os hermanos se repita por aqui.
No Litoral Norte, o dia quente e quase sem vento foi motivo de euforia ontem. Muita gente aproveitou o fim do feriadão para curtir à beira-mar até o último minuto. Ao contrário dos finais de semana anteriores, a areia ficou lotada e a água também. Na orla de Capão da Canoa e de Torres, era difícil até caminhar.
Para quem não pôde ir à praia, o jeito foi suportar o bafo. Em Santa Maria, onde foi registrada a temperatura mais alta do Estado, o mormaço de 38,8°C causou mal-estar e poucos se arriscaram a sair para a rua no horário de sol a pico. Na Capital, a população torrou a 35,5°C. Para fugir do calor, a dona de casa Maria do Carmo Martins, 41 anos, e o filho Juliano Gonçalves Júnior, sete anos, passaram a tarde no Parque Marinha do Brasil.
– Era a única forma de suportar o calorão – contou Maria do Carmo.
Desde fevereiro passado, segundo a meteorologista Estael Sias, não fazia tanto calor nessas e em outras nove cidades. O motivo, conforme Carina Sverzut, da Somar Meteorologia, é a presença de uma forte massa de ar seco e quente sobre a Argentina e o sul do Brasil, que até agora vinha impedindo a chegada da chuva por aqui. Esse fenômeno, porém, está com os dias contados. A partir de hoje, uma frente fria vinda do Uruguai promete furar a barreira e levar chuva aos municípios da fronteira. Com isso, as máximas não devem passar de 26°C na região. No Norte, o mau tempo pode demorar um pouco mais a chegar.
A tendência, conforme Carina, é de que nuvens carregadas cubram todo o Rio Grande do Sul principalmente a partir de quinta-feira. Na sexta e no sábado, a previsão é de chuva generalizada por todo o Estado, com temperatura bem mais amena.
Chuva deve trazer alívio
A expectativa dos meteorologistas é um indicativo de que a seca argentina, já com proporções de flagelo, é um fenômeno isolado. Para Naiane Araujo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), o tempo seco no Rio Grande do Sul deve terminar. Naiane observa que o Estado já está aberto aos “canais de umidade”.
– Não estamos esperando seca para o Rio Grande do Sul – afirma ela.
Naiane ressalta que o deslocamento de frentes meteorológicas não é uniforme, não segue uma linha geográfica. O que acontece na Argentina pode não se refletir no sul do Brasil, apesar da proximidade. A situação do Rio Grande do Sul também é diferente. Houve recordes de chuva em setembro, o que transbordou rios, e as precipitações continuaram no mês passado. E Daniele Otsuki, da Somar Meteorologia, confirma que vem mais chuva hoje com o avanço de uma frente fria proveniente do Uruguai.
Até o final do ano, os prognósticos estão dentro da normalidade. Daniele diz que as regiões oeste, centro-sul e leste do Estado deverão ter chuvas acima da média, na segunda quinzena de novembro e durante dezembro. Já o norte gaúcho deve ficar alerta, conforme a Somar: a chuva estará abaixo da média para o mesmo período.
O que instiga e preocupa os meteorologistas é o verão, por conta de alterações no fenômeno El Niño (o aquecimento das águas do Pacífico). O El Niño traz excesso de chuvas nas estações de transição, como a primavera, o que reduz o risco de estiagens.
– No verão, as simulações continuam indicando precipitações abaixo da média em boa parte da Região Sul – avisa a meteorologista da Somar.
Enquanto o Rio Grande ferve, no Espírito Santo a chuva é protagonista, obrigando mais de 6,5 mil pessoas a deixarem suas casas. A chuvarada, no entanto, não é reflexo do El Niño.
(Zero Hora, 03/11/2009)