Estratégia para o novo fundo está amarrada ao projeto Vale Florestar, iniciado em 2007
A Vale prepara o lançamento de um fundo de investimento em participações (FIP) para criar uma sociedade de propósito específico (SPE) responsável por gerir os ativos da companhia no ramo florestal. O fundo, ainda em fase de captação de recursos, já tem como cotistas os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros) e da Caixa Econômica Federal (Funcef), além de aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O diretor de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Vale, Luiz Cláudio Castro, informa que o fundo já captou R$ 420 milhões. A Vale investiu R$ 280 milhões e já reservou outros recursos para garantir um novo aporte no FIP. "Entramos porque fizemos as contas e será um ótimo negócio agora e no futuro", afirmou Castro ao Valor.
A taxa mínima de retorno do novo fundo será de 12% ao ano. A experiência, primeira do gênero no país, deve ser replicada pela Vale, inclusive com a participação de investidores estrangeiros no negócio. Castro já esteve na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington, para sondar possíveis novos parceiros.
A estratégia para o novo fundo está amarrada ao projeto Vale Florestar, iniciado em 2007. A iniciativa pretende recuperar áreas de pastagens degradadas na região sudoeste do Pará por meio do plantio de florestas industriais de eucalipto e da recomposição da mata com espécies nativas em 300 mil hectares até 2015.
Para garantir o escoamento da produção das florestas comerciais, cujo transporte por via ferroviária ficará sob sua responsabilidade até 2043, a Vale firmou recentemente um contrato de fornecimento com a Suzano Papel e Celulose para vender a madeira dessas áreas até 2028.
A Suzano deve produzir 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano em uma nova fábrica a ser construída no Maranhão. O contrato com a Suzano deve atrair ainda mais investidores ao negócio. "As duas pontas estão cobertas. É um negócio para lá de garantido", avalia o diretor da Vale. A venda dos ativos florestais de 84,7 mil hectares rendeu R$ 235 milhões à companhia.
A criação do FIP complementa a estratégia de atuação ambiental da Vale na Amazônia ao contribuir para a recuperação da cobertura vegetal na região de Paragominas, Ulianópolis, Dom Eliseu e Rondon do Pará, situadas no eixo da rodovia Belém-Brasília. O projeto prevê o plantio de 56 mil hectares já arrendados de pecuaristas de 27 fazendas. "É um ótimo negócio para os pecuaristas também", diz Castro.
Pelo arrendamento das terras, os produtores devem receber até US$ 480 por hectare anuais ao longo do período. Hoje, a criação de gado rende, segundo cálculos da Vale, algo como R$ 140 por hectare. Até 2012, o projeto Vale Florestar deve empregar 3,5 mil funcionários próprios e terceirizados.
O diretor Luiz Cláudio Castro, ex-executivo da Caemi e CSN, cuja trajetória inclui uma experiência de quase quatro anos vivendo no mítico Projeto Jari (PA), também anuncia um amplo programa de conversão de dívidas de compradores de matéria-prima da Vale em "bônus ambientais". A fórmula da companhia é "trocar" a devastação da floresta, empreendida sobretudo pelas "guseiras" no Pará e no Maranhão, por um compromisso de regularização ambiental. "Nós estamos dizendo a eles que façam sua regularização que nós garantimos não só a venda, mas também revemos o passivo", afirma Castro.
Para ter direito ao "perdão" das dívidas com a Vale, as empresas precisam obter a legalização total de suas atividades junto às secretarias estaduais de Meio Ambiente do Pará e do Maranhão. "Estamos fazendo uma reavaliação de todos os nossos produtos para daqui a 15 ou 20 anos com uma estratégia de desenvolvimento sustentável no centro da nossa agenda", afirma o diretor da Vale.
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico / Jornal da Ciência, 30/10/2009)