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captura de carbono redd mata atlântica
2009-11-02

Programa pioneiro no Brasil, abandonado por empresas, depende de sucesso do novo acordo do clima para sobreviver. Experiência-piloto, que faz 10 anos, busca gerar crédito de carbono por conservação e reflorestamento de áreas de mata atlântica no Paraná

O primeiro projeto de sequestro de carbono do Brasil, instalado no litoral norte do Paraná, completa dez anos, sob ameaça. Não há dinheiro para bancá-lo pelas quatro décadas em que ele deveria funcionar. Seus criadores agora apostam no sucesso da conferência do clima de Copenhague, em dezembro, para mantê-lo vivo. O projeto consiste em duas ações. A principal é proteger uma área já existente de 16,5 mil hectares de floresta (mais do que o centro expandido de São Paulo) dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, um dos maiores remanescentes da mata atlântica. A outra é restaurar a mata em 1.500 hectares degradados na região, que abrigava, até os anos 1990, criações de búfalo.

A ONG paranaense SPVS (Sociedade para a Proteção da Vida Selvagem), que mantém o projeto em parceria com a americana TNC (The Nature Conservancy), espera que Copenhague aprove o chamado Redd, mecanismo que permitirá que ações de desmatamento evitado e conservação gerem créditos de carbono. Se isso acontecer, o interesse das empresas deve aumentar -e dinheiro poderá entrar. "Está tudo na mão. A gente já dominou a metodologia. Não é inteligente deixar essa área só na manutenção", disse Clóvis Borges, diretor da SPVS.

O projeto teve um começo promissor. Três empresas americanas (General Motors, American Electric Power e Chevron Texaco) tinham acabado de criar um fundo de US$ 18 milhões para bancar a ideia. Um terço do dinheiro foi utilizado logo de cara na compra das três áreas do onde o projeto seria implementado. O resto foi investido nos Estados Unidos -a ideia era que os rendimentos pudessem ajudar a sustentar as atividades pelas quatro décadas.

As companhias fizeram isso acreditando que estavam se antecipando ao Protocolo de Kyoto. Na época, achava-se que o tratado do clima fosse permitir emissão de créditos de carbono por desmate evitado no chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).

Bush e a crise
Mas então deu tudo errado. Kyoto travou em 2001, abandonado pelos EUA de George W. Bush. O acordo só viria a entrar em vigor em 2005 -mas o desmatamento evitado, grande trunfo do projeto de Guaraqueçaba, ficou de fora do MDL. "Tudo esfriou, muitas empresas se desinteressaram. Isso acabou prejudicando o projeto. Ao longo desses anos, em termos financeiros, a gente se decepcionou", diz André Ferretti, engenheiro florestal que coordenou o projeto até 2005.

E outros fatores também atrapalharam. O Real se valorizou (fazendo com o dinheiro investido nos EUA perdesse cada vez mais valor). Em 2008, veio a crise econômica. Neste ano, a GM, que era a principal doadora, foi à bancarrota. Após tudo isso, já foram gastos US$ 10 milhões. Sobram, então, apenas US$ 8 milhões. O custo de manutenção do projeto chega a US$ 700 mil por ano. Como faltam 30 anos para completar o objetivo inicial, é óbvio: a conta não vai fechar.

Resultados
Desde o início, a ideia era menos compensar emissões de carbono (afinal, o projeto compensaria apenas o equivalente às emissões de de 8.000 carros) e sim ser um modelo de área onde o desmatamento foi evitado e o carbono, mantido. Mas isso não aconteceu. "O mercado ainda não se abriu para manter a qualidade do projeto na área piloto e replicar a ideia fora dele e em outros biomas", diz Borges.

"Agora a questão do desmatamento evitado está voltando, e este modelo pode informar sobre medição e adicionalidade em projetos de Redd", diz Fernando Veiga, coordenador de Serviços Ambientais da TNC . O maior ativo do projeto são estudos pioneiros sobre o comportamento do carbono na mata atlântica: quanto ela absorve, quanta área é necessária para compensar cada tonelada.

Ferretti destaca também, como benefício extra, a conservação de uma área importante para a biodiversidade -há na região espécies ameaçadas na mata atlântica, como a onça-parda, a anta e a queixada. Além disso, fala da contratação de 45 moradores -o projeto é o segundo maior empregador da região de Guaraqueçaba, perdendo apenas das prefeituras. Os locais receberam treinamento para atuar como guarda-parques e plantadores de mudas nativas. Há dois anos, eles criaram uma cooperativa de produção de mel retirado da própria floresta regenerada.

"Antes eles estavam marginalizados, degradando a floresta. Hoje, sabem coisas [sobre manejo florestal] que eu, engenheiro florestal formado na USP, não sei", diz Ferretti.

Área antes devastada já tem onças-pardas
Uma década depois do começo do projeto no litoral do Paraná, os 1.500 hectares que eram pasto viraram densa vegetação. Mesmo jovem, a mata já apresenta árvores, como a guaricica, típica da mata atlântica, com cerca de dez metros de altura. Tatus, queixadas (uma espécie de porco-do-mato), veados e pássaros aproveitam a nova vegetação para estender seus habitats para dentro da floresta regenerada.

No passado, sem obstáculos pela frente, era possível ver no horizonte a cadeia de montanhas que forma a Serra do Mar, fronteira natural entre a costa do Paraná e as regiões de planalto do Estado. A vegetação formada na copa das árvores já é capaz de controlar a entrada da luz do sol até o chão. Com a ajuda do solo úmido, resultado das últimas chuvas, o calor não é tão forte.

Todos os 18 mil hectares são cortados por 270 quilômetros de trilhas, por onde circulam guardas e especialistas que verificam a presença de animais e o desenvolvimento da floresta. Com a vegetação predominante, onças-pardas -que, no passado, só eram vistas próximo as montanhas da Serra do Mar- passaram a ser notadas com mais frequência circulando próximo aos alojamentos das áreas regeneradas.

Uma estimativa extraoficial feita em só uma parte do local diz que existem pelo menos sete espécies adultas circulando. O guarda-parque João Pontes conta que, ao fazer uma ronda de rotina perto de um riacho, deu de cara com uma onça-parda adulta. Pontes relata que, com medo, tentou espantá-la com gritos e fazendo gestos agressivos com as mãos, sem sucesso. "O bicho só saiu correndo depois que eu imitei um cachorro", afirma o funcionário, para riso dos demais companheiros de trabalho.

(Por Dimitri do Valle e Ricardo Mioto, Folha de S. Paulo, 01/11/2009)


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