A chamada segunda geração de transgênicos parece estar pronta para finalmente ir dos laboratórios para a mesa. A Administração de Remédios e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) considerou segura para consumo humano uma soja geneticamente modificada para conter alta concentração de ômega 3. Esse nutriente normalmente só é encontrado em boa concentração em peixes como o salmão.
A soja, desenvolvida pela multinacional Monsanto, poderia ser usada em margarinas. Com a aprovação, a indústria alimentícia americana poderá testar a novidade em seus produtos a partir deste mês, segundo a revista britânica “New Scientist”.
Chegada ao mercado em 2010
A expectativa é que produtos enriquecidos com o óleo de soja transgênica cheguem ao mercado no fim de 2010 ou no início de 2011. Os transgênicos de segunda geração são aqueles que prometem benefícios para a saúde do consumidor.
Os da primeira acenam somente com vantagens econômicas para os agricultores. Exemplos são os grãos resistentes a insetos e herbicidas, que estão no mercado há mais de dez anos. Além da Monsanto, Basf e Du Pont pretendem lançar em breve transgênicos de segunda geração.
O ômega 3 é o nome dado a ácidos graxos, considerado uma gordura “do bem”, associado à redução do risco de infarto e derrame.
Geralmente, ele é encontrado em peixes de água fria, como o salmão e a sardinha. Segundo seus defensores, a nova soja poderia também aliviar a pressão nos estoques desses peixes, que sofrem com a sobrepesca graças à procura de óleo com a substância. Uma pesquisa recente, feita pela Universidade de Harvard, concluiu que, nos Estados Unidos, a ausência de ômega 3 numa dieta é a sexta principal causa de mortes que poderiam ser evitadas.
Algumas plantas, como a linhaça, produzem um tipo de ômega 3 chamado ácido alfa-linolênico (ALA). Uma forma de aumentar a quantidade de ômega 3 numa dieta é ingerir linhaça ou então margarinas ou demais produtos que contenham ALA. Entretanto, apenas uma pequena quantidade de ALA é convertida pelo corpo em ácidos graxos que possam ser efetivamente utilizados pelo organismo. Já os óleos de peixe são ricos em dois tipos de ômega 3: DHA, importante para o sistema nervoso e o cérebro, e EPA, importante para o sistema cardiovascular.
Na pesquisa para produzir grãos com ômega 3 EPA, cientistas inseriram dois genes no genoma da soja — um extraído de uma planta semelhante à prímula e outro tirado de um fungo. A soja modificada produz, então, ácido estearidônico (SDA). Como o ALA, esse ácido é convertido em EPA no organismo humano, mas em proporções muito maiores. A nova soja, porém, não tem concentração maior do DHA.
— Para obter um grama de EPA, a pessoa precisaria ingerir entre 3 ou 4 gramas de SDA e cerca de 20 gramas de ALA — afirma David Stark, representante da Monsanto.
Não existe uma recomendação oficial sobre o consumo diário de ômega 3. Segundo a GOED Omega3, empresa que produz produtos à base da substância, o consumo próximo do ideal só é alcançado em países nos quais existe uma grande tradição de consumo de peixes entre a população, como o Japão e a Islândia.
Segundo a Monsanto, menos da metade de um hectare seria o suficiente para produzir a mesma quantidade de EPA presente em 10 mil porções de salmão.
— Não há peixes suficientes para oferecer a quantidade de EPA e DHA que precisamos. Por isso, esse é um avanço positivo — diz Jack Winkler, chefe da Unidade de Política da Nutrição da Universidade Metropolitana de Londres.
(O Globo / IHU Unisinos, 29/10/2009)