Há alguns anos, quando se discutia a conveniência ou não do projeto de Ampliação do Canal, antes do "Referendo", alguns setores que se opunham ao faraônico projeto, advertiram que a Autoridad Del Canal de Panamá (ACP) não havia considerado que, em poucas décadas, a mudança climática abriria a Rota Ártica, o que, na prática, tornaria a chamada "Ampliação" pouco rentável.
Devido a que mais de 50% dos clientes do Canal usariam essa rota que, além de ser mais curta, é gratuita. A reação da ACP foi a de contratar uns famosos "especialistas" estadunidenses e trazê-los ao panamá para que explicassem aos incrédulos que essa "Rota Ártica" não seria transitável "nem em 100 anos". Por isso, não afetaria o trânsito pelo Canal ampliado.
E como todos sabem, o projeto de Ampliação foi imposto através de uma campanha publicitária na qual foram gastos dezenas de milhões de dólares, por 76% dos votos com um Referendo no qual votaram 42% do eleitorado panamenho, ou seja, a minoria.
Hoje, três anos depois, não nos surpreende a notícia de que os famosos "especialistas" foram uma fraude e que a Rota Ártica estará completamente aberta antes de 2020. As principais empresas navegadoras já estão fazendo estudos logísticos para utilizar essa rota. Por exemplo, da Europa até a Costa Oeste dos Estados Unidos, ou ao Oriente Asiático e vice-versa, a rota é mais de 1.000km mais curta do que a que atravessa o Canal do Panamá.
O curioso é que, praticamente desde o início do projeto de ampliação acontecem crises mundiais econômicas e de petróleo. O trânsito pelo Canal diminui notavelmente, apesar de que a ACP insiste em que as entradas pelo pagamento de pedágios aumentaram. De qualquer modo, não é uma situação sustentável: afetará as finanças do Canal e, diretamente, o esquema financeiro da ampliação.
Apesar de que desde a época da campanha do Referendo pelo SIM alegava-se que o Estado panamenho não era aval do financiamento do projeto, o presidente Torrijos esteve na assinatura do referido empréstimo, representando o Estado.
Há preocupação na seleção das empresas que, aparentemente, ganharam a licitação para as principais obras; principalmente pelos termos dos contratos e dos famosos "adendos" em tempo e dinheiro, que fazem com que esse projeto tenha uma data para sua conclusão e um custo indefinido. Parece que a verdadeira "ampliação" será a da enorme dívida pública que todos terminaremos pagando.
Dizia um colega, em tom de provocação, que teríamos que ver se os países donos da Rota Ártica reclamam um pagamento milionário de Créditos de Carbono aos navios que já não terão que passar pela longa rota do Canal do Panamá, por "economizar" milhões de galões de combustível e pela contaminação implicada.
(Por Eduardo A. Esquivel R.*, Adital, 29/10/2009)
* eesquivelrios@gmail.com