O Jornalismo ambiental é a área que mais deve se expandir nos próximos anos
Botar o pé na lama. É isso que um jornalista ambiental precisa para cumprir perfeitamente suas tarefas. Essa é uma das áreas que mais cresce dentro da mídia, principalmente na internet, através dos blogs e ONGs, impulsionada pelas recentes catástrofes ambientais e pela importância estratégica que a Amazônia adquiriu nos últimos anos. Se você, futuro jornalista, gosta do “cheiro do mato”, acaba de encontrar sua mais nova editoria: mostrar ao mundo o que o Meio Ambiente (ainda) tem a nos oferecer.
Vilmar Berna, ganhador do “Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente” e “Prêmio Verde das Américas”, superintendente executivo da REBIA (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente, acredita que a área tem grande importância para a humanidade: “Sem informações socioambientais para a sustentabilidade solidária dificilmente a sociedade será capaz de fazer escolhas melhores rumo a um mundo mais fraterno, ecológico, pacífico e solidário”.
Muitas vezes, a escolha pelo Jornalismo ambiental não é voluntária. Foi o que aconteceu com o editor do site “Ambiente Já”, Carlos Matsubara: “Cheguei ao jornalismo ambiental por acaso, ao buscar um estágio em uma editora. Passado algum tempo, ela lançou um projeto de um site de noticias ambientais, que posteriormente virou uma agência de notícias especializadas, o ‘Ambiente Já’. Como eu estava por lá, acabei entrando no projeto. Só que com o passar do tempo fui gostando cada vez mais do que fazia e o tema acabou me seduzindo completamente. Vi que nas pautas tinha chance de entrevistar políticos, cientistas, ambientalistas, gente do povo e empresários”.
Já a jornalista Karina Miotto tem uma história completamente diferente: “Um dia, tive um ‘clique’: quero ser jornalista ambiental. Mandei e-mails para várias revistas, mas ninguém me respondia. Resolvi insistir com Marcos de Sá Correa, do site Eco. Ele me avisou que iria vir para São Paulo e eu fui ao aeroporto com uma plaquinha, atrás de um emprego. No final, consegui”.
O Jornalismo Ambiental nem sempre é a primeira escolha dos estudantes, que escolhem outra área
A profissão exige muita vontade e coragem. Para Martha San Juan, da revista Horizonte Geográfico, “nós, jornalistas, sofremos interferências de todos os lados. Fazer um bom Jornalismo Ambiental é algo muito complexo. Mas ao fazer, estamos contribuindo para a preservação do Meio Ambiente”. Para Matsubara, “lidamos, escrevemos e, sobretudo, aprendemos sobre o que considero ser o futuro. Aprendi que há outras maneiras de se enxergar o mundo, outro jeito de encarar a vida. Escrever sobre o assunto significa lidar com temas como poluição industrial, resíduos, saúde, crimes ambientais, prevenção, saneamento, enfim, com tudo que se refere à vida das pessoas”. Ulisses Capozzoli, da Revista Scientific American, questiona as atuais diretrizes da editoria: “Estamos muito geocêntricos. Tudo está voltado para o planeta Terra. Desconsideramos a importância das ciências, como a Física, na natureza”.
Karina Miotto destaca a importância da Amazônia: “Existem 25 milhões de pessoas morando na região. Ela representa 58% de toda a extensão territorial do Brasil e controla o ciclo de chuvas de todo o continente americano”. Mas para ela, o mais importante é a população local: “As crianças são especiais. São muito inocentes e viram logo seus amigos. Não tem preço conversar com as pessoas. São muito simples. Elas não precisam de cartão de crédito ou a última calça jeans da moda. São felizes com o pouco que têm”.
Mas a jornalista passou por apuros na região: “Quando eu era assessora de imprensa do Greenpeace cheguei, numa ocasião, a ser ameaçada de morte, encarcerada dentro do hotel e interrogada por mais de seis horas. Tudo isso porque defendia, junto com um grupo de ativistas e jornalistas estrangeiros, uma tribo indígena que depende de um rio para sobreviver numa cidade do Mato Grosso do Sul”.
Matsubara atenta para outro problema: a falta de espaço para o assunto na grande mídia e o exagero nas reportagens. “As grandes coberturas sempre têm ênfase nas catástrofes ecológicas com visões sensacionalistas. É o que comumente vemos na imprensa quando ela fala de Meio Ambiente. Muitas vezes essa resolve atacar o problema enxergando apenas o pobre cidadão, informando-o de que precisa economizar no chuveiro e na lavagem dos pratos, mas esquece de cobrar as autoridades com relação a atitudes que melhorem a vida das pessoas. É muito revoltante quando a imprensa fica ‘cega’ nas vezes que alguma grande empresa ou anunciante é flagrado cometendo infrações ambientais. Essa visão ‘caolha’ é o que mais me incomoda. Ainda há muita hipocrisia. Vamos ter a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil. Fala-se em muitos aspectos, mas quase não se menciona a questão do licenciamento ambiental para as obras. A mídia e o governo apenas se lembrarão disso às vésperas dos eventos. Com isso, volta àquela velha ladainha de que o licenciamento ambiental é um entrave ao desenvolvimento econômico”. E completa: “Apesar de constatar um avanço na consciência ambiental, muito ainda é apenas discurso da boca para fora. Enquanto não mexe no bolso, está tudo bem e todos amam a Natureza. Mas não pensam duas vezes antes de derrubar uma floresta para criar gado na Amazônia”.
Sobre a profissão, Vilmar Berna acredita que “antes de pensar em si próprio, no quanto pode vir a ganhar ou deixar de ganhar com o Jornalismo ambiental, o estudante que quer seguir na área deve pensar como ele pode ser útil à sociedade, no quanto pode se sentir feliz e realizado através do seu ofício. O resto será apenas conseqüência”. Carlos Matsubara tem o mesmo pensamento: “o jornalista acaba sempre aprendendo na prática e talvez seja esta forma o mais indicado, ‘quebrando a cara’, conversando com fontes e entrevistando gente da área. O importante é estar a fim, querer aprender e gostar do que estiver fazendo. O dinheiro e o reconhecimento vêm depois”. Para Karina Mioto, “o jornalista que optar por essa área vai estar um passo a frente dos demais. Não há muita gente especializada”.
Com espaço na grande mídia ou não, o jornalismo ambiental merece destaque. Os recentes acontecimentos no mundo mostram que teremos dias difíceis. A tendência é que aumentem os problemas envolvendo o Meio Ambiente. Para tanto, o futuro jornalista deve estar preparado para grandes coberturas na área. Pois, como diria Francis Bacon, “para ser comandada, a natureza deve ser obedecida”.
Quando a última árvore tiver caído,
Quando o último rio tiver secado,
Quando o último peixe for pescado,
O homem vai entender que dinheiro não se come.
(Adaptado do Greenpeace)
(Por André Biernath Gomes Bento, contribuição por e-mail ao Ambiente JÁ, 29/10/2009)