Cerca de 170 missionários, lideranças indígenas e de movimentos sociais do Brasil estão participando, de terça (27/10) até sexta (30), da 18ª Assembleia Geral do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O encontro, que ocorre em Luziânia, Estado de Goiás, vai definir - para os próximos dois anos - as ações que pretendem frear o impacto das grandes obras nacionais sobre as populações tradicionais. Ontem e hoje, os participantes debateram o tema. Amanhã e sexta, os grupos de trabalho definirão o documento final do encontro.
Os participantes do evento - que tem por tema "Paz e Terra para os povos indígenas" - enfatizaram o impacto de obras do governo federal sobre as comunidades indígenas. As ações promovidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram citadas como de grande prejuízo para os grupos tradicionais.
"O governo federal não se preocupa muito com a presença dos povos indígenas. O centro da preocupação são os grandes projetos, e não, os povos que vivem nas regiões afetadas", avaliou o presidente do Cimi e bispo do Xingu, dom Erwin Kräutler. O grupo citou a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio - prevista para 2015 - e de Jirau - para 2013 -, ambas se utilizando das águas do Rio Madeira, no Estado de Rondônia, no Norte do país.
Os missionários ainda questionam a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Estado do Pará, também Norte; e a já iniciada transposição de parte das águas do Rio São Francisco, no Nordeste brasileiro.
Eles ainda enfatizaram os danos socioambientais causados por empreendimentos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), empresa pública federal. Na avaliação de dom Erwin, o governo federal "se preocupa em dar uma solução para os problemas dos povos indígenas, mas sem questionar os projetos das grandes construções. A justificativa é que ‘não se pode frear o progresso por causa de uma dúzia de indígenas’", criticou.
O presidente do Cimi enfatizou a despreocupação do governo pela demarcação dos territórios tradicionais. "O que a gente percebe é a não demarcação de terras indígenas, principalmente nas fronteiras com outros países. Isso escancara os territórios para a invasão", considerou. Kräutler também criticou a bancada ruralista do Congresso Nacional, "que trata os povos indígenas como estorvo, como entrave para o progresso. Eles falam de desenvolvimento, mas é um desenvolvimento para abrir grandes áreas pro grande capital".
Os debates de ontem e hoje contaram com a presença dos líderes indígenas Eva Canoé, do povo Canoé (Rondônia); Aurivan dos Santos, do povo Truká (Bahia); e Eliseu, do povo Guarani Kaiowá (Mato Grosso do Sul).
(Adital, 28/10/2009)