Sabesp culpa chuva e ocupações irregulares no entorno; enxurrada pode ter feito uma vítima em Itapevi
Uma enchente tomou de surpresa ruas de bairros de Barueri e Carapicuíba, alagando 50 casas e levando prejuízo a centenas de pessoas que perderam móveis, utensílios domésticos e até carros. O alagamento também pode ter feito uma vítima em Itapevi. Anteontem, após as 18h, quando o Rio Cotia já subia, André do Nascimento, de 27 anos, tentou atravessar a correnteza próximo da Estação Engenheiro Cardoso da CPTM e acabou levado pelas águas. O Corpo de Bombeiros de Osasco foi acionado e está à procura de Nascimento. Segundo sua mulher, Fátima Aparecida da Silva, ele estava alcoolizado.
Em Cotia, pelo menos três bairros estão isolados. O alagamento é resultado da burocracia e poderia ter provocado uma tragédia. É consequência das fortes chuvas de segunda-feira, do transbordamento da Represa Baixo Cotia e do assoreamento do Rio Cotia (por causa de ocupação irregular, em grande parte), que subiu 1,70m e invadiu áreas vizinhas.
A Sabesp, responsável pela represa, alega que a chuva forte provocou o transbordamento da represa. O assoreamento do Rio Cotia colaborou para a inundação. Ontem, o volume armazenado de água estava em 101,8%, segundo a companhia. "Não houve extravasamento da barragem da represa. O problema foi a chuva muito forte, 94,4 mm, num curto espaço de tempo, enquanto a média histórica do mês é de 122,4 mm. A vazão na noite de ontem era de quase 10 mil litros por segundo, enquanto o normal é de mil litros por segundo", afirmou Hélio Luiz Castro, superintendente de Produção de Água da Sabesp.
Castro disse que há dois meses foi detectado grande assoreamento do Rio Cotia, por causa das ocupações de terrenos vizinhos. Ele explicou que cabe às prefeituras e ao Departamento de Água e Esgoto (DAEE), ligado à Secretaria de Estado de Energia e Saneamento, fazer a limpeza do rio. "O rio é como uma calha, obstruído, não tem como escoar a água."
A prefeitura de Cotia informou que o alagamento do Rio Cotia junto à Estrada do Morro Grande é antigo, mas o problema se acentuou há um ano por causa do estreitamento do rio provocado por invasões e aterros ilegais. Em janeiro, a administração municipal solicitou ao DAEE autorização para fazer o desassoreamento do rio, mas a liberação só foi emitida no dia 20. O DAEE não informou a razão da demora. Os Jardins Sandra, Nossa Senhora da Graça e São Miguel estavam, até as 23 horas de ontem, com os acessos principais bloqueados pelas águas.
Em Barueri, a prefeitura alega que a Sabesp abriu as comportas da barragem para evitar problemas na represa. A administração descarta o excesso de chuva como causa da inundação. Segundo José Moreira Almeida, diretor da Defesa Civil de Carapicuíba, os danos na cidade foram só materiais. Uma família está desabrigada, porque sua casa pode cair.
Uma das casas mais atingidas foi a da cozinheira Erenilza Maria de Jesus, de 41 anos. Ela mora há 13 anos no nº 14 da Rua Projetada, em Carapicuíba, e sua residência ainda corre o risco de desabar.
(Por Ana Bizzotto, Eduardo Reina e Vitor Hugo Brandalise, O Estado de S. Paulo, 28/10/2009)