Mudanças no setor podem poupar emissão anual de até 200 milhões de toneladas, indica pesquisa feita pela Embrapa. Estudo citado por ministro propõe usar técnica de plantio que emite menos CO2, integrar lavoura à pecuária e recuperar pastos
O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) apresentou nesta terça (27/10) um estudo da Embrapa segundo o qual o avanço da tecnologia na agropecuária poderá contribuir com cerca de 20% da meta para reduzir a emissão de gases de efeito estufa até 2020. Minc quer incluir o setor, cujas emissões dispararam entre 1990 e 2007, na conta da meta de 40% de redução de emissões para o Brasil em 2020 em relação ao cenário tendencial. A proposta do Ministério do Meio Ambiente vem enfrentando resistências no governo.
Segundo estimativa da pasta, caso a economia cresça 4% ao ano, o Brasil emitirá cerca de 2,7 bilhões de toneladas de gases-estufa daqui a 11 anos. A meta é reduzir a projeção a 1,7 bilhão de toneladas. Estimativa divulgada ontem pelo Meio Ambiente mostra que a agropecuária respondia, em 2007, por 25% das emissões -479 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente/ano.
Segundo a Embrapa, para evitar a emissão de quase 200 milhões de toneladas de gases-estufa, seria necessário: promover a integração lavoura/pecuária em 10% das áreas de pasto do país, recuperar 10% das pastagens degradadas; e promover o plantio direto em 40 milhões de hectares.
Para chegar aos 40% de desvio na trajetória de emissões, Minc propõe condicionantes: entre outras, contribuição financeiras de países ricos, redução do desmatamento na Amazônia e no cerrado e um plano para que as siderúrgicas do país plantem todas as árvores usadas para a produção de carvão.
Tudo isso faz parte da estratégia de Minc para tentar emplacar os 40% como proposta oficial do Brasil para a conferência do clima da ONU agendada para o início de dezembro em Copenhague. O plano, que está sendo detalhado por exigência do Ministério da Ciência e Tecnologia, será apresentado a Lula na semana que vem. Minc viaja hoje a Barcelona, onde participará de reuniões preparatórias para o encontro.
Arroto bovino
Entre 1994 e 2007, houve um avanço de 28% na emissão de gases-estufa, segundo a estimativa divulgada pelo Meio Ambiente. O número é semelhante à estimativa feita por pesquisadores da USP de Piracicaba, relatada na última segunda-feira pela Folha: aumento de 24,6% entre 1990 e 2005.
Boa parte disso vem da fermentação no estômago do gado, que libera metano (um gás-estufa poderoso). Segundo a USP, o arroto dos bovinos responde por 12% das emissões brasileiras de gases-estufa. Segundo o IBGE, o rebanho brasileiro cresceu 26% entre 1994 e 2007, passando de 158,2 milhões para 199,7 milhões de cabeças de gado. No período, a emissão de gases-estufa da agropecuária cresceu 30%, ante 54% do setor energético.
A estimativa apresentada por Minc tem o desmatamento como o grande vilão, com 51,9% das emissões de gases-estufa, seguido da agropecuária (com 25%) e energia (20%). Incluídos todos os setores, o Brasil é o quinto maior poluidor do mundo, atrás apenas de China, EUA, Rússia e Indonésia.
(Por Eduardo Scolese, Folha de S. Paulo, 28/10/2009)