A luta para salvar os animais que são alvo de traficantes não se encerra quando os órgãos ambientais conseguem tirá-los das mãos dos criminosos. Depois disso, inicia-se um longo processo para que os animais possam ser reintegrados à natureza.
Esse caminho para a liberdade começa a ser trilhado nos criadouros conservacionistas, lugares onde ficam os bichos encaminhados pelo Ibama e que, como o próprio nome diz, têm o objetivo de manter a conservação das espécies. Em todo o Rio Grande do Sul, existem 45 lugares credenciados pelo instituto. Em Santa Maria, está um dos maiores do Estado, o Criadouro Conservacionista São Braz.
Criado em 1995, o local tem cerca de 400 animais de mais de 60 espécies. Todos com uma história de maus-tratos em comum, consequência do transporte cruel usado pelos traficantes. Se retirá-los do meio ambiente é fácil, devolvê-los ao seu espaço natural é algo difícil e delicado. O responsável pelo criadouro, Santos Brás, afirma que, primeiro, os animais passam por um período de quarentena, para serem tratados.
– O ideal seria que não ficassem aqui muito tempo. Mas, na maioria das vezes, eles não sobreviveriam livres e acabam reféns da mão do homem para sempre – diz Brás.
Segundo o chefe do escritório do Ibama em Santa Maria, Tarso Isaia, isso ocorre porque o trauma da captura e da mudança de hábitat é tão grande que o animal acaba perdendo o instinto de sobrevivência e as condições de buscar alimento e se defender de seus predadores. É o caso de Lola, uma arara-canindé, que levou um tiro na asa e está condenada a nunca mais voar. Uma cabeça-seca, ave que lembra a cegonha, terá de passar o resto de sua vida no criadouro pelo mesmo motivo. Mas há histórias com finais felizes no local. Só nos últimos três anos, cerca de 500 bichos ganharam a liberdade, a maioria pássaros. Essa conquista foi graças ao trabalho de recuperação de voluntários.
Segundo Isaia, os criadouros são uma concessão do Estado para os interessados em ajudar na conservação das espécies.
– Quando a pessoa pede o credenciamento, sabe que terá de arcar com os custos de construção, da manutenção dos viveiros e da alimentação dos animais, além de ser fiscalizada – esclarece Isaia.
Parcerias – Apesar de o Ibama não repassar dinheiro para os criadouros, o órgão pode incentivar parcerias que ajudem a manter o local. Um exemplo disso é o convênio firmado com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Os estudantes de Medicina Veterinária fazem estágios no criadouro.
A UFSM e o instituto já estudam a possibilidade de implantar um centro de triagem em Santa Maria. O local receberia os animais logo após as apreensões. Aqueles que não estivessem debilitados, poderiam ser libertados imediatamente.
– Facilitaria bastante o trabalho no criadouro, que receberia só os animais que precisam de cuidados. Há poucos desses centros no Brasil, e nós temos grandes possibilidades de começar a construir o nosso em 2010 – diz Isaia.
(Por Juliana Motta, Diário de Santa Maria, 27/10/2009)