Há décadas os fabricantes de automóveis se esforçam para tornar seu produto menos ruidoso: um carro que ronrone e deslize quase silenciosamente no tráfego.
Finalmente eles conseguiram. Os carros elétricos e híbridos para ligar na tomada, afinal, não apenas reduzem a poluição do ar como também a sonora, com seus motores sussurrantes. Mas isso criou um problema diferente. Eles não são ruidosos o bastante.
Especialistas em segurança, preocupados que os híbridos representem uma ameaça para pedestres, crianças e outros que não os escutem se aproximar, querem que os fabricantes de automóveis forneçam algum ruído desenvolvido digitalmente.
De fato, assim como os celulares têm "ring tones", os "car tones" talvez não demorem a chegar -os proprietários de veículos elétricos poderão escolher o som que seus carros emitem. Trabalhando com magos dos efeitos especiais de Hollywood, algumas empresas de automóveis híbridos começaram a pesquisar em estúdios de som, e não em oficinas mecânicas, para customizar ruídos de motor.
O Fisker Karma, um híbrido "plug-in" de R$ 150 mil que deverá estar à venda no próximo ano, vai produzir um som -projetado por alto-falantes nos para-choques- que o fundador da empresa, Henrik Fisker, descreve como "um cruzamento de nave espacial com carro de Fórmula 1".
A Nissan também está consultando a indústria de cinema sobre sons que poderão ser emitidos por seu futuro veículo a bateria elétrica Leaf, enquanto a Toyota trabalha com a agência americana de segurança rodoviária, a Federação de Cegos dos EUA e a Sociedade de Engenheiros Automotivos em sons para veículos elétricos.
"Uma possibilidade é escolher seu próprio ruído", disse Nathalie Bauters, porta-voz da BMW, acrescentando que no futuro essa tecnologia poderá ser adicionada a um dos veículos elétricos da marca. John Hanson, porta-voz da Toyota, disse: "Não sei sobre qualquer ferimento relacionado a [carros silenciosos], mas é uma preocupação. Estamos ampliando a eletrificação dos veículos, e é verdade que esses carros podem representar um risco para pessoas com deficiência visual".
Estudo publicado no ano passado pela Universidade da Califórnia em Riverside avaliou o efeito de sons emitidos por carros híbridos e de combustão interna trafegando a 8 km por hora. As pessoas que escutavam em um laboratório podiam detectar corretamente a aproximação de um carro movido a gás quando estava a 8 m, mas só escutavam a chegada de um híbrido de bateria silenciosa quando estava a apenas 2 m de distância.
Alguns motoristas de veículos elétricos adotaram uma solução "low-tech" para alertar os pedestres. Quando Paul Scott, de Santa Monica, Califórnia, dirige seu Toyota RAV4 2002 elétrico, costuma baixar os vidros e ligar o rádio para que as pessoas saibam que o veículo silencioso está ali.
Scott, que é vice-presidente do grupo de ação civil Plug In America, disse que prefere dar aos motoristas o controle sobre se o motor faz ruído ou não. "Os carros silenciosos devem continuar silenciosos -trabalhamos muito para que sejam assim", ele disse. "É responsabilidade do motorista não atingir ninguém." Scott já está se habituando à ideia de um "ring tone" automotivo. "Deve ser um ruído operado manualmente, um botão no volante que dispare uma gravação de sua escolha", ele disse.
(Por Jim Motavalli, The New York Times / Folha de S. Paulo, 26/10/2009)