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mst política do agronegócio cpi
2009-10-25

Líderes procuram centrais sindicais, diretórios estudantis, movimentos e partidos para manifestações de apoio

O Movimento dos Sem-Terra (MST) já definiu sua estratégia para enfrentar a CPI criada na semana passada para investigar possíveis irregularidades no repasse de verbas públicas para a organização: vai tentar levar o debate para fora do Congresso. Nos últimos dias, líderes dos sem-terra já estiveram reunidos com representantes de centrais sindicais, diretórios estudantis, movimentos sociais e partidos políticos para articular manifestações em centros urbanos a favor do MST e da reforma agrária e contra a CPI.

"A parte principal da reação vai ocorrer no Congresso", explica João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. "Ao criar essa CPI para policiar o movimento, os ruralistas fizeram o favor de trazer o tema da reforma agrária de volta à pauta dos grandes temas nacionais. Agora vamos aproveitar a oportunidade para organizar manifestações e debates e mostrar que o modelo do agronegócio defendido pelos ruralistas é caro, gera pouco emprego e não é tão produtivo como se diz."

O propósito do MST é não ficar na defensiva. Além de atacar o agronegócio, quer aprofundar o debate sobre a revisão dos índices de produtividade rural. Seus líderes do movimento estão convencidos de que foi esse tema que deu origem à proposta da CPI. Segundo Rodrigues, a articulação dos ruralistas começou em agosto, logo após um encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e representantes do MST, em Brasília. Na ocasião, o presidente teria prometido a eles que promoveria nos dias seguintes a revisão dos índices. Em vigor desde 1975, eles estariam completamente desatualizados.

O anúncio da revisão provocou reações tão fortes dos porta-vozes dos ruralistas que o assunto foi posto de lado pelo Palácio do Planalto. "Mas a reação não parou", diz Rodrigues. "Foi ali que surgiu a proposta da CPI. Abatida num primeiro momento, ela tornou a ficar em pé logo em seguida, com a divulgação da pesquisa sobre assentamentos encomendada pela Confederação Nacional da Agricultura ao Ibope. A ação no laranjal da Cutrale, em São Paulo, foi usada como parte da estratégia conservadora. Ela unificou o setor do agronegócio."

Não é só o debate sobre índices que o MST quer retomar. Seus líderes desejam aproveitar o debate para fermentar a ideia de que o tamanho da propriedade rural no Brasil precisa ser limitado. Até agora essa proposta tem sido defendida principalmente pelas pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - aliadas históricas dos sem-terra.

Os grupos simpatizantes do MST já começaram a se mobilizar. A convite das centrais sindicais de trabalhadores, Rodrigues deve viajar para Genebra, na Suíça, no final deste mês. Vai participar de um encontro de líderes sindicais, promovido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), no qual pretende falar sobre a perseguição ao movimento no Brasil.

Na sexta-feira (23/10), durante uma reunião da Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais, em São Paulo, ficou acertado que mobilizações em defesa do MST deverão estar entre as suas prioridades nos próximos meses. Também na sexta-feira começou a circular um manifesto de intelectuais do Brasil e do exterior em defesa dos sem-terra e contra a CPI.

"O MST é provavelmente o mais importante movimento social do mundo moderno", afirma o sociólogo Ricardo Antunes, respeitado pesquisador na área de trabalho e sindicalismo. "Não podemos aceitar que seja criminalizado porque sobrevive com os recursos propiciados por seus assentados, com apoio solidário e verbas públicas. Estamos falando de milhões de famílias pobres que não têm de onde tirar recursos, como ocorre com pessoas sindicalizadas, que dão contribuições aos sindicatos para a defesa de seus interesses."

Convite do PT
O PT também articula a defesa do MST. Na quinta-feira, numa demonstração de simpatia pela causa dos sem-terra, a direção nacional do partido enviou um convite aos líderes do movimento para que participem de seus próximos debates sobre a conjuntura nacional. "Vamos falar sobre a conjuntura agrária", diz Rodrigues.

Na opinião do líder dos sem-terra, as entidades de representação dos grandes produtores e a sua bancada no Congresso transformaram o debate sobre a questão agrária num debate puramente ideológico. "A revisão dos índices de produtividade não vai penalizar o agronegócio", diz ele. "A abordagem dessa questão pela bancada ruralista mostra o quanto o debate se tornou ideológico."

A temperatura deve subir dentro e fora do Congresso, segundo o porta-voz da organização. "Se os conservadores transformaram o debate sobre o índice de produtividade numa disputa, imagine o que vai acontecer quando apresentarmos o debate sobre o limite ao tamanho da propriedade rural."

Apesar da resistência articulada, Rodrigues reconhece que se trata de um momento difícil, marcado sobretudo por tentativas de criminalização da organização da qual faz parte. "É uma perseguição política", diz ele. "Estão usando o Congresso para a propaganda ideológica."

(Por Roldão Arruda, O Estado de S. Paulo, 25/10/2009)


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