Esperada para esta sexta (23/10), posição de Teerã sobre proposta da AIEA fica para a semana que vem. Antes de a requisição de adiamento ter sido aceita, surgiram no Irã informações acerca da recusa do plano apresentado na quarta-feira
Frustrando a expectativa mundial, o Irã adiou uma resposta ao acordo nuclear proposto pela ONU e chancelado por França, Rússia e EUA. O prazo para uma decisão dado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) venceu ontem, mas Teerã pediu mais tempo para analisar o acordo, que supostamente limitaria a capacidade iraniana de produzir armas nucleares.
Na quarta-feira, quando o esboço de acordo foi apresentado em Viena, o representante iraniano disse que ele estava na "direção certa", mas deixou claro que a aprovação pelo governo não estava garantida. Ontem, o Irã emitiu sinais ambíguos antes de anunciar o adiamento oficialmente. "O Irã informou o diretor-geral que está considerando a proposta em profundidade e numa luz favorável, mas que precisa de tempo, até a metade da próxima semana, para dar uma resposta", disse a AIEA em um comunicado.
Pelo esboço negociado em Genebra e na capital austríaca, o Irã transferiria 75% do seu urânio de baixo enriquecimento (cerca de 1.200 kg) para Rússia e depois França, onde o processo seria concluído. O urânio voltaria então ao Irã com um grau de enriquecimento abaixo do necessário para a produção de armas nucleares, a fim de ser usado para fins médicos. O pacto limita a autonomia do programa nuclear iraniano, o que desagrada os setores mais duros e obriga Teerã a pensar duas vezes antes de aceitá-lo.
O pedido oficial de mais tempo foi precedido de indicações semioficiais contrárias ao acordo. Em entrevista à TV oficial, um negociador iraniano disse que o país prefere um plano no qual possa comprar o combustível nuclear de outros países. Uma contraproposta nesses termos já foi apresentada pelo Irã, mas sofre resistências das potências negociadoras, pois contorna a questão do material nuclear que o país já possui.
França, Rússia, e EUA, que endossaram a proposta na quarta, demonstraram pouca surpresa com a postergação iraniana. O Departamento de Estado americano manifestou desapontamento, mas disse ainda esperar uma boa notícia. "Esperamos que na próxima semana eles nos deem uma resposta positiva", disse Ian Kelly, porta-voz da diplomacia americana. "Obviamente que teríamos preferido uma resposta hoje (ontem). Nossa atitude é de urgência. A comunidade internacional espera há muito tempo que o Irã esclareça suas reais intenções."
Tempo é um elemento crucial nessas negociações. Enquanto o Irã usa a diplomacia para dar tempo a seu programa nuclear e evitar novas sanções internacionais, aqueles que veem Teerã como ameaça alertam que não há tempo a perder. Ao rejeitar o acordo costurado em Viena como insuficiente, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, chamou a atenção para esse elemento.
Para ele, além de garantir que o Irã suspenda o enriquecimento de urânio, o que o acordo de Viena não garante, as negociações devem ter um calendário definido, para que Teerã não possa adiar por tempo indeterminado uma decisão. A França, que tem intensificado a pressão sobre os iranianos, reagiu com pessimismo à hesitação em relação ao acordo. "Não posso dizer que a situação seja muito positiva", disse durante visita ao Líbano o chanceler francês, Bernard Kouchner, antes de saber do adiamento da resposta do Irã.
Toda a expectativa em torno da decisão de Teerã continuará em meio à chegada da equipe de inspetores da AIEA que é esperada amanhã, para visitar instalações nucleares iranianas recentemente reveladas. O Irã, apesar das suspeitas, insiste em que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
(Por Marcelo Ninio, Folha de S. Paulo, 24/10/2009)