Os países em desenvolvimento poderão ter de reduzir o crescimento projetado de suas emissões de carbono em 15% até 2020 se os países ricos concordarem em diminuir as deles em até 40% dentro de um novo pacto global, afirmou uma importante autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (22/10).
As negociações para um acordo global contra a mudança climática, a ser selado em Copenhague em dezembro, empacaram na questão dos níveis de cortes das emissões dos países ricos e dos em desenvolvimento.
Um relatório de 2007 de um painel climático da ONU afirma que os cortes teriam de chegar a 25%-40% a fim de evitar o pior cenário da mudança climática, como mais incêndios florestais, tempestades de areia, extinções, aumento no nível dos oceanos e ciclones mais potentes.
Ao mesmo tempo, todos, à exceção dos mais pobres entre os países em desenvolvimento, teriam de fazer um "desvio substancial" dos níveis referenciais até 2020. "Se os países industrializados reduzem em 25%-40% até 2020, então acho que até 2020 será talvez necessário ver algo na ordem de um desvio de 15% abaixo dos negócios habituais nos países em desenvolvimento", afirmou Yvo de Boer, chefe da Convenção da ONU sobre Mudança Climática, em uma entrevista coletiva.
Até agora, as propostas de cortes nos gases-estufa até 2020 feitas pelos países desenvolvidos totalizam entre 11% e 15% abaixo dos níveis de 1990. E a maioria das propostas impõe condições ligadas aos resultados de outros países.
A União Europeia, por exemplo, disse que cortaria unilateralmente até 20% e, caso outros países ou blocos fizessem o mesmo, aumentaria a redução para 30%. A proposta da Austrália para 2020 varia de 3% a 23% na comparação com 1990.
Pressão sobre Washington - Muitos países relutam em ampliar seus projetos em Copenhague a menos que os Estados Unidos se comprometam também. Washington é o maior emissor, depois da China, e é o único país desenvolvido que está fora do Protocolo de Kyoto, que limita as emissões até 2012.
Vários estão preocupados de que não se chegue a um acordo por causa da falta de confiança entre os países pobres e os ricos e industrializados, acusados pelos primeiros de terem provocado a mudança climática. "A razão é que, primeiro de tudo, a ação tomada pelos países em desenvolvimento, em geral, não é reconhecida nem compreendida", disse De Boer, mais tarde. Ele está na Índia para participar de uma conferência.
"Em segundo lugar, muitos compromissos do passado (feitos pelos países ricos) em termos de finanças, transferência de tecnologia, capacitação, muitos desses compromissos não foram cumpridos."
(Estadao.com.br / AmbienteBrasil, 23/10/2009)