Os representantes dos movimentos de atingidos por barragens afirmam que, 25 anos após a construção da hidrelétrica de Tucuruí, das mais de 7 mil famílias que moravam no entorno do empreendimento, 5.700 receberam ajuda financeira insuficiente para suprir as necessidades e outras 1.500 não receberam qualquer tipo de indenização até hoje.
Os impactos sociais e ambientais que a obra causou seria o assunto principal a ser discutido nesta terça (20/10), em sessão especial no auditório da Assembleia Legislativa. Mas deputados estaduais e federais, além dos prefeitos, vereadores e representantes de moradores que presentes subiram à tribuna e aproveitaram o tempo que tinham para criticar a ausência de representantes da Eletronorte. Na última sexta-feira, a empresa enviou expediente informando que só poderia participar do encontro após a segunda quinzena de novembro.
Foi marcada uma nova audiência, desta vez no dia 23 de novembro, para discutir o assunto de forma mais ampla. Entretanto, como a data é próxima da licitação de Belo Monte, prevista para acontecer até o início de dezembro, os parlamentares não acreditam que representantes da empresa estarão presentes. Para garantir que a Eletronorte participar do debate, o deputado João Salame (PPS) prometeu levar o caso à Justiça.
'Se precisar demandar judicialmente a Eletronorte, a Assembleia vai fazer, para que ela [empresa] perceba a importância desta Casa e dos municípios atingidos', garantiu Salame, autor, junto com os deputados Gualberto Neto (DEM) e Bira Barbosa (PSDB) do requerimento que solicitou a sessão. 'Precisamos fazer esse diálogo para impedir que o que foi feito em Tucuruí ocorra em outras cidades onde serão construídas hidrelétricas, como Belo Monte e Marabá', prosseguiu Salame.
Denúncias
Sete municípios do Estado foram atingidos com a construção da Hidrelétrica de Tucuruí: Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento e Tucuruí. Gualberto Neto explica que, com o empreedimento, a Eletronorte se comprometeu a fazer investimentos como forma de compensação financeira, ambiental e social. 'A gente queria ouvir os diretores da empresa para que eles informassem o que foi feito', disse o parlamentar.
Na área social, a Eletronorte criou, em 2004, o Programa Social para os Expropriados (Proset). Porém, os moradores afirmam que, dos quase R$ 40 milhões disponibilizados, apenas R$ 19 milhões foram utilizados até agora. Metade desse dinheiro foi utilizado para comprar cestas básicas, durante 20 meses. 'Ficou um saldo de R$ 21 milhões. Vamos encaminhar todas essas denúncias aos Ministérios Públicos Federal e Estadual e à própria Eletronorte, porque não queremos criar problemas. Queremos esclarecimentos', afirmou Gualberto.
O representante do Movimentos dos Expropriados pela barragem de Tucuruí, Cícero Bodão, reclama que, desde que a obra foi feita, as famílias das localidades próximas passaram a viver em condições sub-humanas. 'Eles prometeram céu e terra. Mas eu recebi só um barraco de tábua. Hoje, 90% dos expropriados estão em uma situação crítica. Só em Tucuruí são 335 pessoas vivendo assim. Antes da barragem, nós tínhamos castanha, açaí e peixe. Não precisávamos de mais nada. Hoje, está tudo debaixo d’agua', reclamou Bodão, que também questinou o trabalho realizado através do Proset. 'Nós acreditávamos no Programa', afirmou.
(O Liberal / Amazonia.org.br, 21/10/2009)