Famosa pelo seu trabalho com primatas na África, Jane Goodall falou no XIII Congresso Mundial de Florestas sobre sua preocupação com as mudanças climáticas e lembrou que o homem não está sozinho neste planeta
Citando visitas a Groelândia, onde testemunhou os efeitos do degelo sobre os índios Inuits, e ao Panamá, onde acompanhou a retirada de pessoas de ilhas por causa do aumento no nível dos mares, a cientista britânica Jane Goodall defendeu nesta segunda-feira (19) em Buenos Aires que a proposta de Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação (REDD) é uma oportunidade única de proteger as florestas e permitir aos povos locais que permaneçam ali, ajudando a manter sua biodiversidade.
“O REDD é extremamente poderoso, pois trará grandes somas de dinheiro diretamente não só para governos, mas para pessoas locais”, afirmou Jane, conhecida pelo seu longo trabalho junto com primatas na África, durante o XIII Congresso Mundial de Florestas.
Jane citou sua experiência na Gâmbia, onde viu o desmatamento ocorrer no entorno dos Parques de conservação por falta de outras alternativas de sobrevivência das populações que ali viviam. Somente melhorando a condição de vida dessas pessoas, destacou, será possível manter as florestas preservadas.
O mecanismo REDD, que está sendo discutido nas negociações internacionais como uma maneira de recompensar financeiramente países que reduzirem suas taxas de desmatamento, poderia ser usado para proteger florestas ainda intactas, completou. “Hoje já há ferramentas ligadas ao uso de tecnologia de GPS que permitem treinar as pessoas para monitorar as florestas”.
O Google está desenvolvendo um sistema muito simples, explicou Jane, que deve ser lançado durante a Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, em dezembro, em Copenhague, quando também é esperado um posicionamento sobre o REDD como ferramenta para alcançar reduções de gases do efeito estufa através da conservação florestal.
Sua opinião sobre as oportunidades para os povos locais é compartilhada pelo vice-diretor da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), Willian Jackson. “Temos que perceber o potencial das florestas tropicais, não apenas como estoques de carbono, mas também por trazerem outros benefícios sociais e ambientais importantes”, afirmou.
Jackson destaca que o REDD é uma questão de escolha da sociedade e não apenas de mercado, já que seria criado com o intuito de gerar créditos compensatórios pelas emissões feitas por países desenvolvidos. E, principalmente, precisa envolver as pessoas locais. “O desenvolvimento sustentável de florestas precisa incluir todos os atores e o grande desafio é incluir as pessoas que podem ganhar ou perder com isto, como indígenas, que normalmente são os com menores condições de participar das negociações”, disse.
Esperanças
Em meio a números desanimadores sobre a situação mundial dos ecossistemas, com altos índices de desmatamento e perdas de biodiversidade, Jane prometia trazer “razões para ter esperança” em sua fala.
O que a fazia ter esperança? Entre a capacidade humana e vontade dos jovens de hoje de agir, ela enfatizou a necessidade de conectar novamente a mente com o coração. “Nós precisamos romper as barreiras que adoramos criar, não apenas entre culturas, religiões e nações, mas entre a gente e os animais. Os chipanzés nós ensinaram bem isso: não somos os únicos no planeta”.
Jane afirmou que a espécie humana tem um poder de inteligência enorme, porém perdeu algo chamado “sabedoria”, ainda presente entre os indígenas. “Como pode uma espécie tão inteligente ter causado isto ao planeta? Os indígenas tomam decisões pensando em como afetam a vida das futuras gerações”.
O modo que encontrou para sensibilizar sobre a necessidade de respeitar outras espécies vivas além da humana foi trazer o som da floresta para o auditório, lotado de pessoas que vieram ouvir uma “celebridade” em pesquisas com animais.
“Eu não trouxe nenhum slide comigo, mas quero trazer para vocês um som que para mim é um dos mais evocativos e mágicos das florestas da África, que é dos chipanzés”, disse, imitando em seguida o som produzido pelos primatas que ecoou por todos os cantos da sala e arrancou aplausos de todos.
(Por Paula Sheidt, CarbonoBrasil, 21/10/2009)