O projeto de reflorestamento com eucalipto da Suzano para o Maranhão e para o Piauí não é bem um projeto só da Suzano e não é bem um projeto tão novo assim. O esforço hercúleo que a empresa fará ao cobrir 600 mil hectares de Cerrado com plantios de eucalipto, sendo 160 mil no Piauí e 400 mil hectares no Maranhão, obriga que, uma vez ou outra, os altos escalões da Suzano venham aos dois estados para amostrar os projetos em reuniões com governantes e técnicos do governo.
Deve cansar a beleza dos executivos saírem dos ares-condicionados em São Paulo para queimar um pouco de suas calorias sob o auspicioso verão amazônico e sob o auspicioso verão do Cerrado do Maranhão e do Piauí. Pelo menos, durante o dia e a noite, eles penam com o aumento de temperatura, cuja pequena variação afeta e muito a produtividade da agricultura familiar e dificulta a vida das comunidades que percorrem quilômetros para encontrarem um açude.
Em seu breve momento como palestrante no painel de empresários, organizado pelo governo do Maranhão, o representante da Suzano se desculpava perante a platéia, quase toda formada por funcionários públicos, pelo seu caráter de novato ou de que seu noviciado no Maranhão estava apenas começando. Havia certo tom de humildade na postura e nas considerações do representante da Suzano a respeito do projeto para o Maranhão. Talvez ajuizando que a platéia se mostrasse desconfiada.
Fora cuidadoso em uma seara montada pelo governo justamente para que ele e os demais convidados (Alcoa. Vale, Ferroeste, Petrobrás e MPX) entoassem o mantra da importância do Maranhão para as economias nacional e internacional e reverenciassem a administração estadual como parceira na vinda dos grandes projetos para cá.
A humildade serve como uma veste protetora naqueles que não querem chamar atenção nem para si e nem para aquilo que fala. Os elogios do representante da Suzano direcionados a índole dos maranhenses que se mostram atenciosos para com seus funcionários na região Tocantina correspondem a toda uma prática secular das elites maranhenses de conquistar o maranhense, não pelo bolso, e sim pelo sentimento. Nesse sentido, o senhor Eike Batista piorou um pouco a rodada de apresentações porque se comportou como um arrivista que solucionará os problemas de geração de emprego e de geração de gás do estado do Maranhão.
O pessoal da Suzano não é novato no Maranhão e nem no Piauí. No Baixo Parnaíba maranhense, a Suzano providenciou pesquisas genéticas em variedades de eucalipto, no município de Urbano Santos. E isso desde a década de oitenta. No caso do Piauí, a primeira leva de consultores da STCP articula projeto de reflorestamento com eucalipto desde 2004.
Seria bom que a Suzano Papel e Celulose se pronunciasse a respeito dos prováveis impactos no clima, no lençol freático e na biodiversidade com o aumento de temperatura que as mudanças climáticas vão ocasionar no Cerrado e na Caatinga e com o desmatamento dos quase 600 mil hectares para plantio de eucalipto nos estados do Maranhão e Piauí.
(Por Mayron Régis, Fórum Carajás / Adital, 21/10/2009)
* Esse texto faz parte do programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba, apoiado pela ICCO e realizado de forma conjunta com a SMDH, CCN e Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba