A arte que expressa o estranhamento do homem diante das transformações climáticas que assolam o mundo é palco de Tempestade. A mostra reúne obras de 14 artistas, de 10 nacionalidades distintas, apresentadas em grandes projeções de vídeos e fotografias. Com coordenação de Marcello Dantas, curadoria internacional de Alfons Hug e nacional de Alberto Saraiva, a exposição está estruturada a partir dos quatro elementos - fogo, água, ar e terra - que dividem a mostra.
“Antigamente, o tempo era simplesmente tempo. Era como uma segunda pele para as pessoas, e, apesar de suas ocasionais inclemências, fazia com que nos sentíssemos parte de algo maior na natureza. Mas, agora, o tempo chegou ao fim e transformou-se em clima, uma entidade física, anônima e amedrontadora que, a qualquer momento, é capaz de deflagrar uma catástrofe”, explica Alfons Hug.
Com as mudanças climáticas que veem ocorrendo nos últimos anos e a transformação do tempo em clima, o que era de todos passou a dizer respeito apenas a especialistas. Entretanto, afirma o curador, as qualidades metafísicas e simbólicas do tempo não podem ser apreendidas em gráficos e levantamentos estatísticos. “As mudanças climáticas, sejam elas causadas pelo homem ou pela natureza, sempre veem acompanhadas de mudanças culturais: muda a atitude que temos em relação a nós mesmos e ao próximo; o corpo e os sentidos são expostos a novas experiências”, diz o curador.
Hug ressalta ainda que os fenômenos climáticos, cada vez mais midiatizados, precisam ser novamente “culturalizados” e, dessa forma, um tratamento artístico do tempo e da paisagem, como proposto nesta exposição, poderá eventualmente contribuir mais para a preservação de ambos do que um procedimento meramente científico. Ele acredita também na capacidade da massa crítica da arte ativar processos de conscientização no público.
Tempestade reúne os artistas: Laura Vinci (Brasil); Paulo Climachauska (Brasil), Michael Sailstorfer/Jürgen Heinert (Alemanha); Lutz Fritsch (Alemanha); Kalle Laar (Alemanha); Reynold Reynolds (EUA); Shin Kiwoun (Coréia); Alexander Nikolaev (Uzbequistão); Simon Faithfull (Inglaterra); George Osodi (Nigéria); Guido van der Werve (Holanda); Eugenio Ampudia (Espanha), William Paats (Paraguai).
Do Equador ao Pólo Sul, os artistas encontraram a intempérie. Alguns trabalhos lidam com a luz, vinda dos ciclos do Sol, outros com o tempo congelado e o branco vazio das terras gélidas da Antártida. George Osodi realizou uma pesquisa das condições apocalípticas na produção de petróleo no delta do Níger. Já Guido van der Werve mostra como um navio quebra-gelo persegue um andarilho solitário no congelado Golfo da Finlândia.
Alexander Nikolaev e Simon Faithfull adentraram no território da cordilheira do Hindukush e encontraram na Antártica inóspitos desertos de gelo. Eugenio Ampudia e Reynold Reynolds, em seus trabalhos, veem o mundo sucumbir num mar de chamas.
Michael Sailstorfer, por sua vez, incendeia uma choupana de madeira, até que no fim somente sobra a estufa incandescente. “Parece remeter ao poema de Lord Byron A Escuridão, onde os homens põem fogo em casas, somente para verem luz”, analisa o curador.
Esta mostra no Gasômetro em Porto Alegre é uma realização do Goethe-Institut e Oi Futuro (Rio de Janeiro).
Apoio: Usina do Gasômetro, Secretaria Municipal da Cultura/Prefeitura de Porto Alegre e CREA-RS.
Tempestade
Fotografias e vídeo-instalações
Mostra
21 de outubro a 20 de dezembro de 2009
Abertura para convidados: 21.10.2009, às 19h
Usina do Gasômetro
Av. João Goulart, 551
Visitação: terças a domingos das 9h às 21h
Entrada franca
+55 51 21187800
info@portoalegre.goethe.org
(Por Sarah Goulart, Agência Chasque, 21/10/2009)