O uso racional dos recursos naturais renováveis e da biodiversidade pode ser a grande alavanca para o desenvolvimento. A afirmação é do climatologista Carlos Nobre, que participou do III Simpósio Internacional de Climatologia (SIC) que tem como tema central as mudanças climáticas e eventos extremos. O simpósio, promovido pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), conta com 320 participantes e encerrou-se nesta quarta-feira (21/10), no Hotel Continental, em Canela.
Em sua palestra, Carlos Nobre, que é diretor do IGBP e coordenador-geral do INPE/CCST, expôs que a cada hora, 4 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) são emitidos no planeta, 1,5 mil hectares de florestas são derrubados, três espécies são extintas (1000 vezes mais rápido do que os processos naturais). Além disso, as atividades humanas adicionam 1,7 milhão de Kg de nitrogênio às florestas, campos e corpos de água. Contudo, em sua opinião, ainda há tempo de reduzir os riscos futuros para os problemas climáticos promovendo a urgente “descarbonização” dos sistemas de produção e de consumo.
Conforme Nobre, o Brasil ainda pode ser líder mundial em desenvolvimento sustentável. Assim, o país deve buscar soluções para as mudanças climáticas sem afetar sensivelmente o desenvolvimento. Além disso, buscar uma economia de baixo carbono e, ao mesmo tempo, reduzir emissões, aliando à diminuição de desmatamentos e ao aumento do uso de biocombustíveis e biomassa. Importante também o aumento de sumidouros (sequestro biológico em desflorestamentos e solos agrícolas), que podem somar até 2,5% das emissões globais atuais.
Já os estudos do pesquisador José Marengo, do INPE, apontam que para a região Sul (PR, SC e RS) os cenários projetados de mudanças climáticas para o século 21 são aumento de temperatura, menos geadas, aumento dos extremos de chuvas e mais ondas de calor.
O III SIC, que teve início no domingo (18), reuniu participantes de 21 estados do país e teve ampla participação nos debates, com apresentação de trabalhos e mesas redondas que abordaram, entre outros pontos, os impactos que vem sofrendo a região Sul, especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul, intercalando extremos de secas e enchentes, atingindo milhares de pessoas salientando a importância de investimentos em pesquisa, tecnologia e informação. Os gestores, especialmente os municipais, devem preparar e capacitar os setores de meio ambiente, vigilância sanitária e defesa civil para os efeitos do aquecimento global já no curto prazo.
Ao término do encontro, a comunidade científica lançou a Carta de Canela, que será encaminhada para a Conferência de Copenhagen (COP-15), que ocorrerá entre os dias 7 e 18 de dezembro, na Dinamarca. O encontro é considerado o mais importante da história recente dos acordos multilaterais ambientais, pois tem por objetivo estabelecer o tratado que substituirá o Protocolo de Quioto, vigente de 2008 a 2012.
O evento contou também com a participação de pesquisadores de diversas instituições, universidades e autoridades locais e estaduais, entre eles João Braga (vice-diretor do INPE), Paulo Renato Paim, diretor do Departamento de Recursos Hídricos do RS/Sema e Ana Cruzat, secretária executiva da Sema.
(Ascom Sema, 21/10/2009)