Maior espaço para os pedestres, balões coloridos, sacolas de algodão penduradas nas bancas e o aparecimento do sol fizeram dos 20 anos da Feira dos Agricultores Ecologistas, FAE, um sábado inesquecível. "Além de parabenizar a todos, produtores do interior e pessoas da cidade, que estão aqui semanalmente constituindo a feira há outros a serem lembrados", destaca Pedro José Lovatto, da Comissão de Feirantes.
"Acho importante homenagear e agradecer às pessoas que estiveram conosco ao longo destas duas décadas e que por algum motivo não fazem mais parte de nosso convívio. Mesmo estando ausentes, elas foram fundamentais para a nossa história, permitindo que a feira crescesse e se tornasse o que é hoje", conclui Lovatto. Ele evita citar nomes específicos, pois a lista seria muito extensa.
Rádio-feira
Com o céu nublado, em princípio seria suspensa a montagem do equipamento de som. "Com certeza não vai chover", argumentou o produtor Juarez Felipi Pereira às 7h durante a reunião de feirantes, "pode colocar um papel de seda no asfalto que não vai ter um pingo de chuva". E o conhecimento popular venceu a previsão meteorológica.
A primeira atração da rádio-feira foi o resultado e premiação do Feirante em Destaque. O presidente da Associação Agroecológica, Pedro José Lovatto, entregou o prêmio ecologicamente correto aos mais votados em cinco categorias. A eleição foi realizada no sábado anterior, aberta aos feirantes e frequentadores da feira.
Na categoria Agroindústria o banner de juta bordado em linha de algodão colorida foi para o Pão da Terra. A banca representa uma cooperativa de mulheres do assentamento Integração Gaúcha, localizado em El Dourado do Sul. "Eu não esperava, fiquei surpresa e feliz com o reconhecimento" comenta Marinês Riva, representando o grupo que teve suas vendas triplicadas nos últimos dois anos.
Como Banca Urbana, o destaque foi para o livreiro Marco Abrahão, da banca Via Sapiens. Para o melhor Atendimento, a escolhida foi a Coopael, também do MST e do mesmo assentamento do Pão da Terra. O grupo trabalha com hortaliças e traz para a feira até 43 variedades de verduras.
A mais votada no Resgate de Sementes e Biodiversidade foi a Banca do Arroz. Juarez Felipi Pereira produz 26 variedades de arroz, agrupadas em oito tipos: catetos, grãos médios, agulhões, vermelhos, aromáticos, mochis, pretos e arbóreos. Para ele a feira é um local de troca de vivências por isso escolhe a expressão "beneficiários urbanos" para referir-se às pessoas que se alimentam dos produtos da FAE.
Uso da biomirenalização e a compostagem a partir da alga assola deram à Família Stefanoski o destaque Tecnologia de Produção em Alimento Limpo. A riqueza e equilíbrio natural do solo traduz-se na saúde e resistência das plantas que ali crescem, fato verificado no último inverno. "Foram oito grandes geadas consecutivas e as verduras resistiram de forma heróica. As folhas de alface que caíram com o peso do gelo, foram levantando conforme o sol ia aparecendo, sem que ficassem queimadas pelo frio" conta Vilson Stefanoski. "Uma planta bem nutrida resiste mais à diversidade do tempo meteorológico."
Escolas presentes
Outra atração da rádio-feira foi premiar as escolas que participaram do Concurso de Sacolas de Algodão alusivas aos 20 anos da feira. As professoras de arte e alguns alunos do Colégio ACM-Centro e da Escola Estadual Rio de Janeiro vieram à feira receber seus prêmios.
A sacola mais votada foi da ACM: borboletas voando em um mosaico de verdes. A obra chamou tanto a atenção que uma consumidora tomou a iniciativa de retirá-la da exposição, colocou-a na mesa de votação insistindo em comprá-la e saiu descontente com o fato da obra não estar à venda. A aluna Aline, do terceiro ano que passou a noite em claro para terminar sua criação, trouxe sua mãe para auxiliá-la na escolha dos produtos que somam o valor do prêmio de R$ 50,00.
Excluindo a grande vencedora, as duas sacolas mais votadas por escola receberam vale-compras de R$20,00. Os demais participantes também levaram suas sacolas mais pesadas, recheadas com sucos doados pela cooperativa Aécia, com biscoitos do sítio Pé-na-Terra e bolinhos da banca Pão da Terra.
"Trazer os estudantes para a feira foi uma iniciativa multiplicadora e deve ser repetida" comenta uma das fundadoras da feira, a agrônoma Glaci Campos Alves da Banca Nutracêuticos. "Criar um produto, uma sacola que incentive uma atitude em prol da ecologia e da saúde, envolve não só o aluno em si, mas toda e escola e a comunidade, incluindo no processo pais e professores."
Microfone aberto
Inexistindo um palco para a rádio-feira, o microfone na mesma altura dos passantes estimulou a participação popular. Junto à grande mesa com os produtos da feira as nutricionistas Herta Karp Wiener e Cláudia Lulkin explicaram a importância da diversidade de alimentos no cardápio para manter a saúde.
Outros também aproveitaram o som aberto. O músico Ben Hur, do circo Petit Poa, trouxe seu acordeon e brindou a festa tocando ao vivo "Merecida". Livia, filha da ecologista Hilda Zimmermann, falou dos primeiros alimentos orgânicos na cidade em meados da década de 80. Ela destacou que a feira é considerada uma das maiores do mundo por um ecologista alemão amigo de sua mãe.
Após o abraço da feira, realizado ao meio dia em ponto, seguido pelo costumeiro "parabéns a você" uma passante pegou o microfone e conduziu o parabéns gaúcho, acompanhado por todos. No final, enquanto o bolo era distribuído vieram outros agradecimentos e pedidos para que a feira continue por muitos longos anos.
Feira mais ampla
A manhã começa muito cedo para quem transforma o espaço público em uma feira. É preciso chegar por volta das cinco horas e organizar a modificação do fluxo dos carros. Cones sinalizam o estreitamento da pista na avenida José Bonifácio que permitiu a grande mudança em dois sábados de outubro: colocar as bancas na rua e dar mais espaço a quem circula pela feira.
"Essa experiência foi tranquila e tudo fluiu melhor do que se imaginava. A EPTC disponibilizou o material de sinalização e, como havia um estudo prévio do fluxo de veículos, sabíamos como funcionava o trânsito e quais seriam os pontos críticos", comenta Alexandre Luís Hüning, operacional da FAE que organizou a sinalização e o novo estacionamento dos veículos dos feirantes.
Manter ou não o espaço ampliado da feira e a redução das vagas de estacionamento é um assunto a ser discutido pelo grupo de feirantes. Caso a mudança seja aprovada internamente, a próxima etapa inclui negociações com as secretarias municipais responsáveis pela administração do espaço público ocupado pela feira.
(Por Jornalista Cláudia Dreier, EcoAgência, 21/10/2009)