O programa nuclear iraniano é observado com suspeita em boa parte do mundo. O Irã afirma, no entanto, que quer somente garantir seus direitos no contexto do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Os países ocidentais, sobretudo, não acreditam nas declarações das lideranças iranianas que sempre reiteram sua intenção pacífica, já que o programa serviria apenas a objetivos energéticos civis.
A opinião pública mundial tomou consciência do programa atômico iraniano em 2002. Foi quando a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, foi informada pelos serviços secretos de alguns Estados que Teerã estaria trabalhando no enriquecimento autônomo de urânio. De fato, um ano mais tarde, encontraram-se vestígios de urânio enriquecido nas instalações atômicas de Natanz. À notícia de que a República Islâmica do Irã teria escondido por 18 anos seu programa nuclear, a comunidade internacional abriu os ouvidos, e exigiu negociações imediatas.
Enquanto os reformistas ainda estiveram no poder em Teerã, isso foi tarefa fácil. A eleição de Mahmud Ahmadinejad, em meados de 2005, trouxe consigo uma mudança. Pois o radical presidente não cedeu, e enfatizou repetidamente: "Só aceitamos o nosso direito no contexto do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, nada mais e nada menos".
Posição de desconfiança
Essa frase caracteriza o discurso iraniano até hoje. Pois, em seu artigo quarto, o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, que a República Islâmica do Irã ratificou – ao contrário do Paquistão, Índia e Israel – garante o direito inalienável a todos os signatários do tratado de "desenvolverem a pesquisa, a produção e a utilização da energia nuclear para fins pacíficos".
A todos os signatários do documento – e portanto ao Irã também – garante-se a possibilidade de participar "no mais amplo intercâmbio possível de equipamento, materiais e informação". Especialmente devido à ação dos Estados Unidos, o Irã está excluído, no entanto, desse legítimo intercâmbio.
Por esse motivo, o regime dos mulás obtém seu saber nuclear por canais ocultos – mais especificamente através do Paquistão, um aliado controverso de Washington na luta contra o terrorismo. Ainda por cima, devido ao isolamento do Irã, a posição de Ahmadinejad perante qualquer parceiro de negociações é de desconfiança.
"Eles acham que estão lidando com uma criança de quatro anos de idade, a quem basta oferecer alguns castanhas ou chocolate para lhe tirar o ouro. Não precisamos da ajuda dos europeus. Quando foi que pedimos ajuda a vocês? Quando foi que lhe pedimos qualquer coisa para que vocês possam agora, com provocações, privar-nos do nosso direito ao desenvolvimento tecnológico? A nação iraniana não irá suspender nem interromper o enriquecimento [de urânio]", declarou o chefe de Estado.
Resoluções da ONU
No início de 2006, o Irã conseguiu até dominar o ciclo completo do combustível nuclear e produzir urânio com um nível de enriquecimento de 3,5%. Isso é suficiente para a geração de energia, mas não para a produção de armas nucelares.
Naquele momento, o Irã dispunha de 164 centrífugas. Hoje, diz-se que o país já possui 8 mil. Em setembro de 2009, Teerã admitiu estar construindo uma segunda usina de enriquecimento de urânio próximo à cidade de Qom, onde ainda não teria sido instalada, até agora, nenhuma centrífuga.
O Conselho de Segurança da ONU já aprovou, até o momento, quatro resoluções contra o programa nuclear iraniano, as quais Teerã ignorou. O programa nuclear é endossado pela grande maioria dos iranianos, e visto como uma questão de prestígio nacional.
"Estardalhaço absurdo"
No entanto, a posição rígida e inflexível assumida pelo presidente é motivo frequente de crítica. Como salientou o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, não se deve provocar guerra devido à disputa atômica.
Ao mesmo tempo, Rafsanjani alertou o Ocidente: "Através de resoluções vocês não chegarão a lugar nenhum, só criam problemas para vocês, para o mundo e principalmente para nossa região. O caminho certo é parar com esse estardalhaço absurdo".
Através das reações dos EUA e de Israel, pode-se notar o quão explosiva é a disputa em torno do programa nuclear iraniano. Ambos os países já consideraram a possibilidade de empreender ataques militares contra o Irã, algo que continuam a ver como uma possível opção.
(Por Ulrich Pick*, Deutsche Welle / UOL, 21/10/2009)
*Revisão: Augusto Valente