Enquanto siderúrgicas brasileiras adiavam investimentos por sofrer com a queda na venda de aço, devido à crise, a Vale -que é mineradora, e não siderúrgica- manteve seus projetos para produção de aço. A decisão resistiu até mesmo ao adiamento de US$ 5 bilhões previstos em investimentos para este ano, a maior parte ligada a seu negócio principal.
A Vale começou a falar em investimentos em siderurgia em 2001. A ideia é entrar como sócia minoritária de grupos globais e, assim, estimular o crescimento de seu mercado de minério de ferro. Até o momento, porém, a Vale ainda não produziu aço. Antes da crise, a empresa planejava construir usinas no Pará, Ceará e Espírito Santo, além de concluir a construção da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), no Rio, em sociedade com a alemã ThyssenKrupp.
Um ano depois os projetos estão mantidos e, em um dos casos, até ampliado. No Espírito Santo, a crise afastou em janeiro o sócio, a siderúrgica chinesa Baosteel, que ficaria com 60% dos investimentos, de US$ 4,5 bilhões. Meses depois, a Vale retomou o projeto sozinha. Na CSA, a Vale decidiu aumentar sua participação de 10% para 26,8%, injetando mais US$ 1,5 bilhão.
A crise levou a Usiminas a adiar, em julho, o projeto de construir uma usina em Santana do Paraíso (MG), de US$ 6 bilhões. CSN e Gerdau, que tiveram que desligar altos fornos devido à queda nas encomendas, ainda não retomaram projetos -no total, congelaram US$ 7 bilhões que seriam investidos na ampliação de três usinas.
Atrasos
Apesar da manutenção dos projetos siderúrgicos, na prática não foi feito investimento relevante ao longo deste ano, com exceção do aporte para conclusão da CSA. Os desembolsos não saíram por causa de questionamentos ambientais. "A Vale não tem culpa pelos atrasos, mas, neste momento, os atrasos por questões ambientais a favoreceram", diz Gilberto Cardoso, analista do Banif Securities.
Os governos do Pará e Espírito Santo afirmam que não têm participação direta em um possível atraso no cronograma dos projetos. O Espírito Santo, que vai abrigar a CSU (Companhia Siderúrgica Ubu), afirmou que o principal entrave do projeto são questões ambientais, mas, segundo o governo, a empresa não finalizou a compra de terrenos. Por outro lado, é esperada uma resolução de toda a parte burocrática em "alguns meses". As principais dúvidas ambientais são relacionados à emissão de partículas de carbono e ao reaproveitamento da água.
No Pará, anunciado como sede da Alpa (Aços Laminados do Pará), o que atrasou o projeto foi a discussão da forma de incentivo financeiro a ser concedida pelo Estado, mas a resolução é prevista pelo governo para breve.
(Por Samantha Lima, Folha de S. Paulo, 20/10/2009)