O Greenpeace lançou na quinta-feira (15/10) um relatório criticando a ligação do mecanismo de redução das emissões por desmatamento e degradação (REDD) com os mercados de carbono sub-nacionais, alegando que estas compensações podem na verdade ameaçar a proteção climática.
“Como é muito mais barato para as grandes empresas poluidoras de CO2 pagar pela proteção florestal do que reduzir as suas próprias emissões, elas estão fazendo um lobby forte a favor das compensações sub-nacionais. Estas empresas podem conseguir confundir os políticos, mas o clima não será enganado”, diz o documento.
A ONG está preocupada com o chamado ‘vazamento’, onde as emissões detidas por um projeto de desmatamento evitado em uma determinada região incentiva a deterioração florestal em outro local. Neste caso, o efeito do projeto para aumentar a absorção e o estoque de carbono na floresta acaba se tornando nulo. Além disso, sem um plano abrangente para reduzir as emissões, se torna difícil garantir a permanência dos projetos e se ele representa uma economia real de carbono (adicionalidade), pois em muitos casos estas áreas seriam protegidas de qualquer maneira.
Para tal, o Greenpeace investigou um projeto apoiado há cerca de uma década pelas gigantes do carvão e petróleo American Electric Power, BP e Pacificorp. Chamado ‘Noel Kempff Climate Action Project’, ele promove a conservação de um parque nacional na Bolívia visando compensar emissões de gases do efeito estufa destas empresas. O relatório da ONG monstra como as compensações de carbono são quase 90% menores do que originalmente estimado, uma vez que as taxas de desmatamento na Bolívia na verdade aumentaram desde o início do projeto.
Segundo o Greenpeace, o projeto falha em quatro aspectos: vazamento (já que o desmatamento aumentou no país), Adicionalidade (mudanças na lei boliviana mostram que a área seria protegida mesmo sem o projeto), Permanência (há riscos de queimadas, pestes, doenças e mudanças políticas que podem colocar em risco a proteção da floresta) e benefícios às comunidades (com base em depoimentos, observaram que eles são quase nulos).
“Noel Kempff, amplamente citado pelo setor como uma história de sucesso para compensações florestais sub-nacionais, falha em todos os (quesitos) citados acima”, afirma o Greenpeace.
(Carbono Brasil / Envolverde, 19/10/2009)