Entidades ligadas a sem-terra obteriam mais verba após representantes irem trabalhar para deputados
Relatório da CPI das ONGs, no Senado, mapeou entidades ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que contam com representantes na Câmara a trabalhar por mais verbas para si. O documento revela que parte delas recebeu mais recursos da União depois que seus representantes foram trabalhar para deputados. O texto cita assessores e ex-assessores dos deputados petistas Marco Maia (RS), Assis do Couto (PR), Anselmo de Jesus (RO) e Adão Preto (RS), já morto. "Suspeita-se da ocorrência de desvio de recursos públicos, bem como formação de quadrilha", diz o relatório.
A Folha apurou que o documento deu base para as quebras de sigilos de ao menos quatro entidades parceiras do MST que receberam cerca R$ 50 milhões dos cofres públicos. São elas: Anca (Associação Nacional de Cooperação Agrícola), Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil), Cepatec (Centro de Formação e Pesquisas Contestado) e Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul).
Os deputados localizados pela reportagem admitem que empregaram representantes das entidades. Mas negam ter ligação com o MST. "É uma afirmativa falsa dizer que há um braço do MST na Câmara. O que existe são deputados ligados a pequenos e grandes agricultores", disse Marco Maia. Durante dois anos, ele manteve um funcionário que, segundo o relatório, tinha relação com 13 entidades.
Assessores e ex-assessores do deputado Assis do Couto também foram citados no documento, que contabilizou repasses de até R$ 46 milhões para entidades representadas por eles. Desse total, R$ 38 milhões foram liberados quando trabalhavam para o deputado. O texto diz que Couto apresentou 11 emendas no valor de R$ 4,83 milhões para ações da Concrab, da Anca e do MST, ligadas a seus funcionários.
(Por Fernanda Odilla, Folha de S. Paulo, 19/10/2009)