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eucalipto no pampa passivos da silvicultura monocultura
2009-10-19

Nós, mulheres do campo e da cidade, em face ao Congresso Mundial de Florestas que ocorre em Buenos Aires – Argentina (18 a 25 de outubro de 2009), expressamos nossa repulsa à expansão de projetos de monoculturas de árvores, celulose e papel nos quais tem sofrido, especialmente, o bioma Pampa (Brasil, Uruguai e Argentina).

De forma ludibriosa/mentirosa vem sendo propagada o desenvolvimento de “florestas” no Pampa, como alternativa de geração de trabalho e renda quando, na verdade, estão sendo desenvolvidos milhares de hectares de monoculturas de árvores exóticas (eucalipto e pinus), que para nós, mulheres, nada mais são do que desertos verdes, onde o lucro fica nas mãos de restritas empresas, algumas delas multinacionais do agronegócio.

Por sermos mulheres organizadas, protagonistas de lutas de resistência em defesa de uma sociedade igualitária, onde a organização da economia tenha como centralidade a sustentabilidade da vida de todos os seres e não do mercado e do lucro, denunciamos  os inúmeros impactos negativos, relatos por mulheres, sobre suas vidas e de suas comunidades, a saber:

- Há uma forte pressão para que suas famílias vendam as terras às empresas de celulose e papel. Tal fato além de aumentar o êxodo rural, também está causando um inchaço nas cidades, consequentemente aumento do desemprego, pobreza e violência;

- Aos que resistem em ficar na terra, há uma forte pressão para aderirem aos famigerados programas de fomento “florestal” que as empresas oferecem em parceria com os governos locais;

- Há uma retração dos processos de reforma agrária e consequente falta de incentivos públicos para o desenvolvimento da agricultura familiar camponesa e para manutenção das famílias no campo;

- A ofensiva da silvicultura sobre o Pampa tem gerado poucos empregos para as comunidades locais e em se tratando de trabalho para as mulheres, os números são pífios;

- As condições de trabalho são precárias, os contratos são temporários, muitas vezes com garantias trabalhistas mínimas, com exploração da força de trabalho, principalmente sobre as mulheres trabalhadoras dos viveiros de mudas, e que já demonstra estar comprometendo a saúde das trabalhadoras e trabalhadores;

- Muitas são as dificuldades acerca das condições sociais e de sobrevivência diária, como a contaminação do ambiente e de animais devido à utilização de grande quantidade de agroquímicos nas lavouras de eucalipto; a precária situação das estradas rurais devido ao tráfego de veículos pesados; escassez de água; degradação da terra, entre outras;

- Em nome do lucro, esse tipo de desenvolvimento mantido pelo sistema capitalista patriarcal, destrói a vida de homens e mulheres, assim como a vida dos demais seres;

- É nesse modelo que as mulheres tem vivenciado profundas mudanças na divisão sexual do trabalho, nos papéis que desempenham na família e na comunidade, intensificando, ainda mais, a sua condição subordinada;

- As papepeiras dependem da nossa terra, da nossa água e do nosso clima para existir, querem comprar a vida das pessoas e transformam a terra em mercadoria descartável – usam, esgotam e passam para outra;

- Expandir a produção de celulose alimenta este padrão insustentável de consumo que depende da exploração da natureza de uma região do planeta, o sul pobre, para manter o padrão de vida de outro, o norte rico;

- As plantações de eucalipto também alimentam às carvoarias, sistematicamente denunciadas e autuadas por trabalho escravo, e saciam a fome das caldeiras das siderúrgicas que exigem mineração, degradando para isso as nascentes e lençóis freáticos;

- Para as mulheres a expansão das monoculturas de eucalipto, tem gerado situações de medo, de violência e assédio sexual. Muitas mulheres relatam que têm medo de circularem sozinhas próximo aos plantios, devido à presença de pessoas estranhas à comunidade. Isso faz com que as mulheres tenham seu direito de ir-e-vir cerceado, favorecendo mudanças de hábitos e costumes. Além disso, muitas têm vivido situações de assédio sexual por parte de tais trabalhadores. Isso, sem dúvida, tem significado um retrocesso na independência e autonomia das trabalhadoras, contribuindo para um maior desempoderamento feminino;

- Muitos outros impactos negativos podem estar ocorrendo (p.ex. aliciamento para prostituição; proliferação de doenças sexualmente transmissíveis; consumo de drogas; mudanças nos hábitos alimentares; desestruturação familiar; dentre outros), como geralmente ocorre em diferentes lugares após a chegada de  empreendimentos desse porte. Infelizmente tais impactos não são contabilizados e/ou estudados pelos entes públicos.

Sendo assim, nós mulheres resistirem e seguiremos em luta, enquanto for preciso, não só contra o avanço das monoculturas de árvores exóticas e dos mega-projetos das empresas de celulose e papel sobre o Pampa, mas contra os processos de mercantilização da vida dos seres e de desempoderamento das mulheres. Nós mulheres temos o potencial em fazer com que “o novo aconteça” e o estamos fazendo.

Assinam o manifesto
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES- BRASIL
MOVIMENTO DE MULHERES CAMPONESAS – BRASIL
NÚCLEO AMIGOS DA TERRA BRASIL –  BRASIL
CENTRO DE ESTUDOS AMBIENTAIS – BRASIL
REDES / AMIGOS DE LA TIERRA  – URUGUAY
RED DE GRUPOS DE MUJERES RURALES – URUGUAY
GRAIN – ARGENTINA
WRM – MOVIMIENTO MUNDIAL POR LOS BOSQUES

(OngCea, 17/10/2009)


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