Pré-candidata do PV foi recebida com rezas, cânticos e danças em Japorã

A senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do PV à Presidência, manifestou apoio nesta quinta (15/10) ao ultimato dos índios guarani-caiuás, que deram prazo de 30 dias para a Fundação Nacional do Índio (Funai) iniciar a demarcação das terras tidas como indígenas em Mato Grosso do Sul.

"Estou aqui na condição de senadora, não como pré-candidata à Presidência da República. Não prometo resolver os problemas aqui apresentados, mas estou junto com vocês nessa luta para a reconquista das terras de seus antepassados", afirmou Marina para os caciques reunidos em Japorã. "Posso até não ser mais senadora no próximo ano, mas continuarei lutando pela causa indígena como professora, como uma aliada ativa e se for possível até como presidente."

Ela explicou ter obtido bons resultados na busca dos direitos das minorias. Contou que desde os 17 anos de idade trabalhou no Acre pelos 12 mil índios do Estado. "Imaginem aqui em Mato Grosso do Sul, onde vivem 60 mil indígenas. O problema é bem maior. Prometo levar pessoalmente seus depoimentos ao presidente da República e vou usar a tribuna do Senado para buscar soluções para a questão."

Reza
Os índios receberam a senadora com rezas, cânticos e danças, envolvendo-a em uma roda antes de iniciar a aty-guaçu (grande reunião). A ex-ministra do Meio Ambiente recebeu pintura dos guaranis no rosto e, de vestido longo marrom escuro com mangas compridas, acompanhou o grupo com fisionomia séria.

"Temos 32 tekohas para serem demarcados. Vamos esperar um mês, depois nós mesmos vamos demarcá-las", disse o cacique Getúlio Lima a Marina, usando o termo guarani para se referir à terra tradicionalmente indígena. A posição do cacique foi endossada pelos representantes de todas as tribos do Estado presentes à reunião, com a declaração de um "grito de guerra".

No encontro, os índios reclamaram também da insegurança que estaria tomando conta das aldeias. De acordo com eles, a violência está a cada dia maior, envolvendo homicídios e tráfico de drogas. "Estamos muito infelizes, sofrendo muito mesmo", afirmou um dos caciques.

Chuva
A ex-ministra chegou a Japorã por volta de 17 horas, em um helicóptero do Comando Militar do Oeste, porque a forte chuva sobre a cidade isolou o local onde está a Aldeia Yvy Katu (terra eterna), a 550 quilômetros de Campo Grande, no extremo sul do Estado. No local estavam 400 líderes indígenas de Mato Grosso do Sul e de outros Estados. A aty-guaçu é realizada desde 1986 quando existem problemas de difícil solução entre os índios.

(Por João Naves de Oliveira, O Estado de S. Paulo, 16/10/2009)