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adaptação à mudança climática emissões de gases-estufa
2009-10-16

“Meu Deus, está jorrando aos montes”, disse Gosney, coordenador da área ambiental de EnCana, produtora de gás canadense que opera na nascente, há um ano, próxima a Franklin no Texas. “É horrível”.

Em poucos dias as fendas foram fechadas por trabalhadores. Esforços como o da EnCana economiza energia e dinheiro. Também é uma forma barata e eficiente de atenuar as mudanças climáticas, pois possivelmente poderiam ser aplicados milhares de vezes de Wyoming à Sibéria, disseram especialistas em energia.

O gás natural é constituído quase totalmente de metano, um gás que bloqueia o calor da atmosfera, o qual cientistas dizem ser responsável por quase um terço da contribuição humana para o aquecimento global. “Isso é para mim uma burrice absoluta, ainda mais do que colocar aquelas lâmpadas fluorescentes compactas em casa”, disse Al Armendariz, um engenheiro da Universidade Metodista do Sul, que estuda poluentes provenientes de poços de petróleo e gás.

O alvo

Agir rápido para estancar a emissão do metano poderia substancialmente suprimir o aquecimento no curto prazo, mesmo que países busquem o desafio maior de cortar as emissões do gás dominante no efeito estufa, o dióxido de carbono, sugere os estudos de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Diferente do dióxido de carbono, que uma vez liberado pode permanecer na atmosfera por um século ou mais, o metano persiste no ar por cerca de 10 anos. Então, controlar agressivamente as emissões desse gás significaria que o aquecimento da Terra teria melhorar em uma década ou mais.

O metano também é um alvo valioso, porque por ser mais raro e passageiro do que o dióxido de carbono, tonelada por tonelada, ele bloqueia 25 vezes mais o calor, segundo os pesquisadores.

Métodos

Ainda que os programas federais e internacionais tenham encorajado as companhias a buscar e refrear as emissões de metano de nascentes, oleodutos e cisternas de gás e petróleo, os esforços empenhados pela EnCana vão muito além das normas da indústria.

Como resultado, cerca de 89,4 trilhões de metros cúbicos de vazamento no ar por ano, sendo a Rússia e os EUA as fontes dominantes, de acordo com a estimativa de uma autoridade da Agência de Proteção do Meio Ambiente, EPA, em inglês (esse montante inclui a capacidade de aquecimento das emissões de mais da metade do carvão vegetal produzido nos EUA). E os cientistas do governo e autoridades industriais advertem que o número verdadeiro certamente seja maior. De acordo com eles, a menos que a monitoração seja amplamente expandida, as emissões podem aumentar conforme a produção global de gás natural se eleve nas próximas décadas.

O Departamento de Energia projetou que a produção de gás poderia crescer aproximadamente 50% nos próximos 20 anos com a corrida das companhias em busca de novas fontes. Nos EUA, mais de seis mil quilômetros de um novo oleoduto foi construído no ano passado.

Mas a indústria tem sido bem resistente a essa limpeza. A administração Bush, que se opôs aos limites mandatórios da emissão de gases estufa, expandiu um programa doméstico voluntário já existente para capturar emissões de metano e iniciou um programa internacional – ambos visavam promover formas lucrativas para empresários cortarem as emissões de metano com um passo relativamente simples para combater as mudanças climáticas.

Em abril, a administração de Obama assinalou que poderia adotar regras exigindo que grandes companhias americanas relatassem todas as suas emissões de gases estufa. Os grupos de indústrias de petróleo e gás se opuseram, dizendo que o custo e a complexidade de lidar com 700 mil fontes eram grandes demais.

Em setembro, a EPA anunciou que o relatório obrigatório seria exigido a partir de 2011, mas que ele excluía operações com petróleo e gás, ao menos por enquanto (oficiais da agência dizem que planejam lançar regras para o petróleo e o gás no fim do próximo ano).

Alguns cientistas rejeitam os argumentos da indústria. “Atrasos maiores em encontrar e impedir tais liberações seria uma irresponsabilidade, dado os benefícios ambientais e financeiros”, disse F. Sherwood Rowland, químico da Universidade da Califórnia, em Irvine, ganhador do prêmio Nobel.

Emissão global

Internacionalmente, a quantidade de metano liberado em operações com gases e petróleo pode ser apenas superficialmente avaliada. Mas em 2006, a EPA estimou que a Rússia, maior produtora de gases do mundo, ficou no topo da lista, com mais de 12 bilhões de metros cúbicos em liberação de metano por ano, seguido pelos EUA com cerca de 9,7 bilhões, a Ucrânia com mais de 6,3 bilhões e o México com mais de 5,4 bilhões.
 
Refletindo a incerteza de tais estimativas, a Gazprom, gigante russa do monopólio de gás, estimou que suas emissões anuais seriam menos da metade dos números do ano passado.

A revisão da EPA sobre emissões de metano de fontes de gás nos EUA indica assertivamente que todos esses números devem ser muito baixos. Em sua análise, a EPA concluiu que a quantidade emitida em operações rotineiras em poços de gás – sem incluir fendas como aquelas vistas próximo a Franklin – é doze vezes maior que a estimativa de longo prazo da agência, que seria de 254,7 bilhões de metros cúbicos. Quanto potencial de bloqueio do calor, a nova estimativa iguala o dióxido de carbono emitido anualmente por oito milhões de carros.

Nas atividades de rotina, grandes, porém invisíveis, nuvens de gás entram na atmosfera quando novas fontes são ativadas, as antigas são revigoradas para impulsionar o fluxo do gás e fluídos são retirados das fontes, ao deixar sair estouros da fenda, com barulhos semelhantes à tosse.

Em muitas fontes de gás, disse Roger Fernandez, especialista sênior em metano na EPA, poços com fluidos obstruídos ainda são removidos da maneira antiga, abrindo válvulas ou usando um equipamento obsoleto de maneira que liberam gases nebulosos diretamente no ar.

Para a EPA e os cientistas ambientais, o desafio é convencer os produtos de gás e petróleo, tanto dos EUA quanto do resto do mundo, de que os esforços para evitar essas emissões muitas vezes pagam por si mesmos.

Infravermelho

O uso de câmeras com infravermelho está expandindo conforme as informações sobre o êxito em preservar o gás, disse Bem Shepard, vice-presidente executivo da Permian Basin Petroleum Association, que representa 1.200 companhias do mercado de petróleo e gás em todo o leste do Texas. “Gostaríamos de ver mais pessoas fazendo isso”, disse ele. “As pessoas ficam muito surpresas quanto tiram fotos desses equipamentos com essas câmeras e veem que há liberações de materiais em lugares que eles não esperavam”.

Os benefícios não são apenas para os produtores de gás, mas também para as companhias que lidam com petróleo. Milhares de tanques estocando petróleo emitem nuvens de metano e outros gases, disse Larry S. Richards, o presidente da Hy-Bom Engineering em Midland, Texas, que está usando câmeras com infravermelho para avaliar os tanques de estoque em 29 países e vende sistemas que capturam o gás.

Uma visão clara do que é pior nas emissões de metano pode surgir no ano que vem. O Japão planeja iniciar a divulgação de dados da Gosat, satélite que começou a orbitar ao redor da Terra em janeiro. Ele pode conseguir identificar os pontos mais quentes do planeta a poucos quilômetros de distância.

Isso pode aumentar a pressão nos países que têm fendas particularmente grandes. Como maior emissora de metano, a Rússia começou a buscar soluções na alta tecnologia. Em abril, por exemplo, a Gazprom, o Ministério da Defesa Russa e a companhia aeroespacial israelense começaram a discutir o uso potencial de uma miniatura de helicóptero pilotado à distância para buscar fendas nos oleodutos.

Mas somente os equipamentos não impedirão a vasta emissão de metano da Rússia, dizem os ambientalistas. Há uma esperança de que o pacto climático que sucederá o Protocolo de Kyoto de 1997 irá incluir mais incentivos em dinheiro, para os projetos russos de redução de metano.

Lucros
As companhias do leste que identificaram pontos de metano destacaram o dinheiro que frequentemente se ganha por fazê-lo. Começando por volta de 2000, a BP começou a introduzir técnicas para capturar metano em 2.300 campos de fontes no Novo México. Poço após poço, esse gás que teria escapado, agora flui por metros em um campo que as equipes carinhosamente chamam de “caixa registradora”.

Entre outras ações, os engenheiros da BP aperfeiçoaram um sistema para remover fluidos que possam estancar as fontes. O processo utiliza a pressão do gás no poço para periodicamente aumentar a remoção por meio de um tubo vertical. Isso retira os líquidos, mas tipicamente permite que o gás escape.

O novo processo computadorizado, que a BP chama de automação inteligente, verifica a pressão do poço e outras condições para se precisar melhor o tempo dos ciclos das liberações de forma que evite as emissões de gases. De 2000 a 2004, as emissões das fontes da BP na região caíram 50%, disse a companhia. Em 2007, elas basicamente acabaram.

Em média, a instalação dos sistemas custa cerca de US$ 11 mil por fonte, mas eles tiveram um retorno três vezes maior que o investimento, disse Reid Smith, consultor ambiental da BP, que trabalha neste projeto. “Gastamos muito dinheiro para conseguir que o gás venha até a superfície”, disse Smith. “Então faz muito sentido que se aproveite todo ele com os medidores de venda”.

(Por ANDREW C. REVKIN e CLIFFORD KRAUSS, The New York Times / Último Segundo, 15/10/2009)


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