Esses dias uma caravana formada por Lula, Dilma e Geddel Vieira Lima estará percorrendo algumas áreas do São Francisco. São lugares especialmente selecionados para a visita do presidente. Ele já quis visitar a área por várias vezes e, por falta do que ver, várias vezes sua viagem foi adiada.
Levarão Lula para ver uma reconstituição das matas ciliares do Velho Chico. Algumas árvores plantadas em espaço de 100 km. Claro, na região da Barra, diocese de Frei Luís. Não mais do que a Reserva Extrativista de Serra do Ramalho já fez há muitos anos com extraordinária competência. Algumas árvores plantadas não significam a recomposição das ciliares. O São Francisco tem apenas 5% de suas matas originais. Além do mais, a devastação promovida no Oeste Baiano pelo agronegócio anula qualquer esforço na calha do rio. Os afluentes continuam morrendo, o aqüífero Urucuia continua perdendo forças. O rio sobrevive da água de chuva.
Quanto ao saneamento, o governo tem investido na região. Tomara que as obras se concluam com qualidade, não só coletando os esgotos e jogando-os no rio, mas tratando-os como prevê o figurino do saneamento ambiental. Por enquanto, não dá para garantir que as obras seguirão os parâmetros do saneamento ambiental.
Porém, revitalizar um rio é muito mais que repor matas e sanear águas. O problema do São Francisco é o modelo de desenvolvimento que o devora. Todo esforço será anulado se as grandes e predadoras obras prosseguirem. É remendo novo em pano velho, de forma que o buraco se torna maior que antes.
Quanto à transposição, o governo diz que as obras já chegaram a 15% em média. Vamos entregar de bandeja que seja verdade, mesmo assim é muito pouco para oito anos de governo. Mesmo com três turnos de trabalho, se os Paraibanos dependessem efetivamente das águas do São Francisco para matar sua sede, já teriam morrido.
Agora a frente paraibana de prefeitos desistiu da transposição. A Agência Nacional de Águas (ANA) suspendeu provisoriamente a transposição para a Paraíba. É que a transposição prevê apenas a transferência de águas do São Francisco para outras bacias, não a sua distribuição pelas adutoras quando depois de transpostas. Os prefeitos, prevendo o custo que não conseguem arcar, desistiram. Então, a ANA suspendeu a Paraíba até que providencie o que lhe cabe.
Serra também andou aqui. Veio ver a situação do povo que vive na beira do São Francisco. Óbvio, tem finalidade eleitoral. Portanto, o São Francisco vai estar no debate eleitoral do ano que vem.
Lula tem o que mostrar? Talvez outro tivesse vergonha de mostrar nos tempos atuais uma obra predadora como essa. Entretanto, até essa vergonha está difícil de visualizar.
Para além do marketing eleitoral, enquanto sociedade civil, vamos continuar lutando pela verdadeira revitalização do São Francisco, pela democratização da água no Nordeste através das adutoras e da captação da água de chuva, para que todas tenham água e a tenham em abundância.
(Por Roberto Malvezzi*, Adital, 14/10/2009)
* Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra